Profecia imprevista

Estava escrito. Há 30 anos. Quando O profeta, de Ivani Ribeiro, entrou no ar na extinta Tupi, a história do jovem paranormal Marcos foi um achado. Discutia as responsabilidades de um grande poder e, principalmente, o espiritismo, tema que conquistou na época uma grande audiência. Três décadas depois, a novela dirigida por Mário Márcio Bandarra derrapa numa média de 29 pontos. A antecessora, Sinhá moça, marcava média de 35 pontos.

A aposta na paranormalidade não trouxe o sucesso de A viagem, da mesma Ivani Ribeiro, e de Alma gêmea, de Walcyr Carrasco. Para resolver, a emissora transformou Marcos, o médium bonzinho, que se uniu a vilões para faturar com seu dom. O maior problema de O profeta, porém, não foi o enredo, mas o protagonista. A escolha de Thiago Fragoso revelou-se desastrosa. Nem a barba malfeita confere a seu rosto bonito o drama, o terror e a responsabilidade de quem convive com os mortos e conhece o destino dos vivos.

 O ator principal não dá conta do recado, mas ele não fica sozinho nessa. Paola Oliveira ainda não disse a que veio. Apesar de Sônia, sua personagem, retratar bem o clima Anos dourados, com sainhas rosas rodadas e ar angelical de ?menina-moça?, Paola merecia mais experiência antes de encarnar um papel de destaque. Carol Castro, que completa o trio protagonista, dá a impressão de ?poder ir mais além?. Mas não foi ainda.

 Quem acaba sobressaindo são os coadjuvantes. Juliana Baroni como uma perua, é uma das revelações da trama. A ex-paquita demonstra ter agarrado a oportunidade com unhas vermelhas e dentes sempre brancos. O mesmo vale para Rodrigo Phavanello e a já consagrada Fernanda Souza. Na pele da desajeitada Carola, a atriz dá mostras de que segue em linha reta rumo à solidez na carreira. Malvino Salvador também se destaca como o vilão Camilo, apaixonado por Sônia. Até Rodrigo Faro, que acumula papéis medianos, consegue um certo destaque como o peixeiro Tainha. Ao lado de Rosi Campos, seu personagem garante bons momentos de riso.

 Apesar de seguir a onda dos ?remakes?, a trama de Ivani Ribeiro busca alternativas próprias. A produção de Thelma Guedes e Duca Rachid retrata com esmero os anos 50s, o que explica o grande número de mensagens recebidas na Central de Atendimento ao Telespectador. Os figurinos, inspirados em astros e estrelas de Hollywood, se destacam, em especial, o de Teresa, de Paula Burlamaqui, inspirado em Marilyn Monroe. E, entre suas qualidades, a história ainda se destaca ao tratar de temas considerados tabus nos anos 50s, como gravidez antes do casamento.

 Finalmente, é a cenografia reproduzida no Projac que mais merece aplausos. A área de 7 mil m2  construída no complexo de estúdios da Globo revela cenas de melhor aproveitamento do que as externas, gravadas no interior do Rio Grande do Sul. Felizmente elas agora só aparecem em ?flashback?, com as lembranças de Marcos e seu passado mediúnico. Com uma história de época ingênua, recheada de encontros e desencontros românticos, o folhetim tenta encontrar um caminho.  

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