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Joyce não sabia de nada. |
Londres – O viúvo da pianista britânica Joyce Hatto, que morreu em 2006, aos 77 anos, admitiu que lançou no mercado CDs de virtuosos do piano, cujas interpretações atribuiu à esposa para dar a ela, que sofria de câncer, a ?ilusão de um grande final?.
William Barrington-Coupe, 76 anos, produtor de música clássica, havia negado que alguns álbuns de interpretações de sua esposa eram idênticos a gravações anteriores de outros intérpretes, como revelara há alguns dias a revista musical Gramophone.
Joyce Hatto, que lutou a partir de 1976 contra um câncer de ovário, gozou nos últimos anos de vida de muita popularidade graças à interpretação de compositores como Beethoven, Liszt, Rachmaninov, Schubert, Chopin, entre outros.
Produzidas pela pequena gravadora do marido, Concert Artist, algumas interpretações foram consideradas magistrais pela crítica. ?É a maior pianista viva, de quem ninguém ouviu falar?, afirmou um crítico britânico.
Porém, agora se confirmou que as magistrais interpretações não eram dela, depois que o viúvo confessou que usou as gravações de outros pianistas para dar à esposa ?a ilusão de um grande final a uma carreira injustamente subestimada?, afirma o site da Gramophone.
Traído pelo iTunes
A falsificação foi descoberta no início de fevereiro, quando um leitor alertou a revista de uma anomalia detectada quando ouvia uma gravação de Hatto no iTunes.
Quando a música começou a tocar, o iTunes reconheceu a composição como se o intérprete fosse outro, o pianista húngaro Lászlo Simon, em uma gravação produzida pela BIS Records.
A Gramophone decidiu investigar a irregularidade e levou outro CD de Joyce Hatto a uma companhia especializada, que determinou que quase todas as gravações da pianista não eram dela, e sim de outros músicos.
Depois das conclusões, James Inverne, editor da revista musical, afirmou que a Gramophone não acusava ninguém. ?Simplesmente afirmamos que estas gravações são idênticas a outras. Se alguém puder oferecer uma explicação, gostaríamos de escutar.?
Agora, Barrington-Coupe forneceu a explicação, ao confessar, em uma carta enviada a Robert von Bahr, diretor da BIS Records, que havia cometido a apropriação musical indevida para dar à esposa um reconhecimento musical que a terrível doença a havia negado.
A pianista faleceu em junho do ano passado, sem saber o que o marido havia feito. ?Barrington-Coupe sente que agiu de maneira estúpida, desonesta e fora da lei?, acrescenta a edição virtual da Gramophone.
A gravadora BIS informou que não vai processar Barrington-Coupe ?devido às circunstâncias?. ?Estou cansado, não estou bem. Destruí todas as gravações. Só quero um pouco de paz?, afirmou o inconsolável viúvo.