A evolução do baile funk em 2013 ocorre em mais de um front, do intercâmbio com DJs experimentais, à influência do hip-hop de viés “trap”, ao diálogo como pop eletrônico em voga nas pistas americanas. Por um lado, perpetua-se uma conversa global entre produtores de música com ambições vanguardistas, embora uma pequena parcela disso ocorra na periferia. Por outro, a abrangência popular da nossa principal moeda de troca musical – pobre, amadora e dolorosamente crua como a realidade em que tem seu berço – ganha um verniz mais trabalhado, ecoando o trabalho de hitmakers americanos.
Esta segunda é uma questão – ou um rolê – vivenciado todos os dias pelo DJ Carlos Nunez, produtor em ascensão nos círculos de MCs da zona leste paulistana (veja no soundcloud.com/cnunez), que trabalha em um projeto musical do governo na Vila Curaçá e também trilha o lado mais underground do funk.
“O funk paulistano ficou por muito tempo preso à simplicidade por causa da preguiça e da falta de originalidade da maioria de produtores”, conta o DJ, em conversa com a reportagem, em um metrô a caminho de Itaquera. “Hoje em dia, a galera que me procura está atrás de mais elementos, de uma produção mais lapidada”, completa. Carlos produz MCs como Maike, Thiaguinho e Dede, o mais famoso em seu portfólio, praticante de um funk sensual, menos pornográfico do que o de costume (vide Linda Menina, produzida por Carlos, ou o hit Bum Bum na Água, produzida pelo DJ Bruninho FZR). Como a de uma crescente leva de DJs nacionais – entre eles Alex MPC e Dennis, produtor de Naldo – sua proposta é colocar elementos de música eletrônica contemporânea no funk. No caso de Carlos, isso tem de ser feito sem descaracterizar o funk – uma proposta difícil sendo que se trata de um gênero atualmente baseado em um único sample de percussão vocal (o “tchu tcha tcha”, para os íntimos).
Embora o funk visto por uma ótica de eletrônico não seja novidade desde que Naldo virou hit com batidas à la David Guetta, há ainda uma resistência em abraçar tendências internacionais. “Por outro lado, o pessoal da periferia ainda acha que colocar elementos eletrônicos é coisa de playboy, que elitiza o funk”, conta Carlos, cujas batidas obedecem à ética simplista do gênero, e, além de melodias de sintetizadores, adicionam apenas elementos sutis, como um bumbo ou uma caixa de hip-hop. “Mas agora que o funk voltou ao mainstream e a coisa está mais séria, os MCs que me procuram querem esses detalhes a mais”, completa.
Beatmaker freelancer após o expediente, Carlos trabalha durante o dia na Fábrica de Cultura da Vila Curaçá, instituição do governo de São Paulo que proporciona atividades culturais de graça para os moradores da periferia. A unidade da Vila Curaçá tem um estúdio montado para a gravação dos moradores.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.