Lição de vida

Problemas: não respeitam cor, credo ou classe social

Várias e várias vezes eu já reclamei da vida por coisas simples, até mesmo banais. Mas eu não sabia o que realmente era dificuldade, já que de repente a vida pode mudar de cabeça pra baixo, de uma hora pra outra. Foi o que aconteceu com Linda Franco.

Conheci a Linda através da minha mãe, num sábado, em um churrasco beneficente em Araucária, que Linda organizou para ajudar pessoas com doenças raras. Uma mulher simpática, gentil, humilde, batalhadora. Não consigo descrevê-la de uma forma lacônica. Mas sua história de superação começou há cinco anos, quando descobriu que seu filho Gabriel estava com uma doença rara chamada adrenoleucodistrofia, que atinge o cromossomo X, sendo muito bem apresentada no filme Óleo de Lorenzo.

Para tratar esta doença é necessário um medicamento de que custa 700 reais e que dura um mês. E por receber muitos “nãos”, ela foi atrás, persistiu e criou seu próprio grupo chamado troca-troca entre mães especiais. Linda começou o projeto em 2013 com uma página em uma rede social na qual faz troca de medicamentos, experiências, sentimentos e informações com outras mães que precisam de auxílio para o tratamento de seus filhos.

Linda me disse que o grupo é uma ponte entre a pessoa que precisa e a pessoa que tem a doação. E fica muito orgulhosa ao falar que o grupo cresceu tanto, que ela ajuda famílias que não vivem apenas na cidade de Curitiba, no Paraná ou no Brasil. Linda também ajuda famílias que vivem em outros países.

– Em dois dias, eu tinha 600 famílias. Hoje eu tenho 3.400! E hoje a corrente do grupo se espalhou, não sou apenas eu que faço a minha parte, eu tenho mais dezoito filiais, que são mães de outros estados que me ajudam com doações, informações e muitas outras coisas.

Na semana seguinte, Linda estava fazendo um bazar beneficente. Lá conheci Leandro, que também tem adrenoleucodistrofia. Um rapaz bem simpático, de 30 e poucos anos, com sua esposa e suas duas filhas. Ele ajuda Linda indo à casa de outras mães para pegar doações, e Linda o ajuda dando um pouco do remédio que sobra de seu filho.

 Logo depois fui visitar meu avô. E no caminho percebi que escorriam lágrimas pelo rosto de minha mãe, então perguntei o porquê, então ela olhou pra mim e disse, “Fico pensando naquele rapaz. Tão jovem, com uma família tão bonita, e com uma doença que pode te fazer ficar vegetando em uma cama”.

Já fazia tempo que eu não via meu avô, da última vez ele nem me reconheceu, ele está com Alzheimer. Quando cheguei na casa dele minha mãe me chamou para vê-lo, quando entrei em seu quarto e o vi deitado, sem poder falar, com dificuldade para respirar, se alimentando por sonda, sem ao menos conseguir se mexer, fiquei espantado, não consegui dizer uma palavra sequer. Senti um aperto no coração. O pouco tempo que fiquei, estava apenas parado, olhando para ele. Quando fui embora, no momento em que entrei no carro, minha mãe reparou uma lágrima escorrendo pelo meu rosto, e então apenas observou e disse enquanto voltávamos para casa, eu sei como é difícil você ver alguém naquele estado, não sei quanto tempo vai durar, mas precisamos ser fortes.

Naquele momento percebi que o trabalho de Linda é tão necessário, como é bom ter alguém que luta pelos seus direitos. Não apenas para si próprio, mas para o bem de tantas outras pessoas, que tiveram suas vidas mudadas de repente por culpa de uma doença.

Agora Linda tem muitos outros projetos, o principal é formalizar o seu grupo, conseguir o CNPJ. Com isso ela poderá ir atrás de parcerias, e daqui um ou dois anos buscar ajuda do governo, e de empresários. E talvez no futuro abrir um instituto destinado a ajudar pessoas portadoras da adrenoleucodistrofia. E para isso Linda vai contar com o dinheiro que irá receber de um prêmio do grupo Optimist International. O grupo ficou encantado com o trabalho que ela fa,z, e vai ajuda-la a realizar o seu sonho.

Mas enquanto isso a batalha contra as doenças raras continua, e Linda sempre estará disposta a ajudar aqueles que precisarem.

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