Se nosso Oscar tupiniquim deixa a desejar em comparação à versão hollywoodiana em termos de glamour e fama, o mesmo não acontece quando o assunto é polêmica. A noite do Grande Prêmio TAM de Cinema, que consagrou os melhores de 2003 em festa realizada na quarta-feira no Cine Odeon BR, no Rio de Janeiro, teve direito a constrangimentos em público e ofensas a torto e a direito.
O principal pivô da polêmica foi o cineasta pernambucano Cláudio Assis, que atacou o diretor de Carandiru, indicado em 14 categorias. O diretor de Amarelo Manga, que concorria a 13 premiações, enxovalhou Hector Babenco, enquanto ele subia ao palco para receber o prêmio de melhor diretor, que foi dividido com Jorge Furtado por O homem que copiava.
Para surpresa da platéia, que incluía famosos desde Caetano Veloso a Selton Mello e Rodrigo Santoro, Cláudio Assis chamou Babenco de “imbecil”. “Por que você não sobe ao palco para falar isso na minha cara?”, desafiou Babenco, para em seguida ouvir um “vai tomar no c…”. Já depois da premiação, não menos alterado, Assis – que concorria ao prêmio de melhor direção – justificou sua atitude dizendo que o cinema deste país devia ser realizado com “mais honestidade”.
“Se ninguém tem coragem de chamar a família Barreto, Cacá Diegues e Babenco de dominadores, eu tenho”, disse ele a jornalistas. “Cinema nesse país tem que ser feito com honestidade.”
Babenco, do alto do palco, lamentou o ocorrido tecendo, até, elogios ao ofensor. “Gosto do filme do Cláudio (Assis), mas não sabia que ele era baixo assim. Sei que meu filme não agrada a todos, mas superou nossas expectativas de público e vai me fazer sempre ser lembrado por ele”, disse Babenco.
O imbróglio quase tirou o brilho do grande vencedor da noite, Jorge Furtado. Seu segundo longa-metragem, O Homem que Copiava, levou seis prêmios, incluindo melhor filme, diretor, roteiro original (ambos para Furtado), melhor montagem (para Giba Assis Brasil), melhor ator coadjuvante (Pedro Cardoso) e melhor atriz coadjuvante (Luana Piovani).
Para receber todos os prêmios, foi Lázaro Ramos – indicado o melhor ator pelo filme, mas não premiado – quem subiu ao palco, já que os vencedores não estavam na festa. Contendo-se nas primeiras vezes em só dizer obrigado, Lázaro fez questão mais tarde de lembrar Paulo José (o homenageado da noite que, segundo o ator, inspirou Furtado a escrever O Homem que Copiava) e agradecer a oportunidade de estar no filme.
Caetano Veloso, que foi acompanhado de sua mulher Paula Lavigne e da amiga do casal Paula Burlamaqui, também preferiu sair mais cedo falando com jornalistas apenas na chegada da festa.
Perguntado se estava lá para torcer pelo filme da mulher, produtora de Lisbela e o Prisioneiro, o músico justificou sua presença dizendo-se apenas fã de cinema. “Se eu não fosse músico queria ser cineasta, mas acho que não tenho talento. Já dirigi um filme e, mesmo assim, quero dirigir outro”, disse Veloso.
Grande Prêmio TAM do cinema nacional
Longa ficção O Homem Que Copiava
Longa documentário Nelson Freire
Direção Hector Babenco (Carandiru)
Atriz Débora Falabella (Dois Perdidos numa Noite Suja)
Ator Selton Mello (Lisbela e o Prisioneiro)
Atriz coadjuvante Luana Piovani (O Homem Que Copiava)
Ator coadjuvante Pedro Cardoso (O Homem Que Copiava)
Fotografia Walter Carvalho (Amarelo Manga)
Direção de arte Adrian Cooper e Chico Andrade (Desmundo)
Figurino Marjorie Duncan (Desmundo)
Maquiagem Vavá Torres (Desmundo)
Roteiro original Jorge Furtado (O Homem Que Copiava)
Roteiro adaptado Victor Navas, Fernando Bonassi e Hector Babendo (Carandiru)
Montagem Giba Assis Brasil (O Homem Que Copiava)
Som Aloysio Compasso, Denilson Campos e Gabriel Pinheiro (Nelson Freire)
Trilha sonora João Falcão e André Moares (Lisbela e o Prisioneiro)
Longa-metragem estrangeiro As Invasões Bárbaras (de Denys Arcand)
Curta ficção Bala Perdida (de Victor Lopes)
Curta documentário Rua da Escadinha, 162 (de Márcio Câmara)
Curta animação A Moça Que Dançou depois de Morta (de Ítalo Cajueiro)