Quando cruzou o local onde ocorreu a entrega do Prêmio Shell de Teatro de São Paulo, na noite dessa terça-feira, 11, Silvana Garcia parecia não acreditar que a apresentadora da cerimônia, a atriz Mariana Lima, tinha pronunciado seu nome ao anunciar o prêmio de Direção. “Já estive nesse júri e não é confortável”, disse à comissão julgadora. “Neste momento, vocês são odiados por muitos e amados por poucos.”
Silvana foi reconhecida pela encenação de Não Vejo Moscou da Janela do meu Quarto, peça que estreou em junho e foi financiada pelo sistema de crowdfunding – com doações de interessados – por meio do site Catarse. Fora do circuito tradicional, a produção foi apresentada em uma das salas da SP Escola de Teatro, na Praça Roosevelt. Em seu discurso, ela agradeceu ao júri por manter o olhar para as pequenas produções.
Não Vejo Moscou… também levou o prêmio de Iluminação pelo trabalho de Beto Bruel, totalizando dois troféus e empatando com outras duas produções. Uma delas foi Trágica.3. A montagem, que teve temporada no Centro Cultural Banco do Brasil, concorria em cinco categorias, sendo uma das preferidas. Levou o prêmio de Figurino por Glória Coelho – que estava no local, mas não na hora da entrega, quando foi substituída pelo diretor Guilherme Leme – e de Atriz, por Denise Del Vecchio.
Em seu discurso, a atriz destacou que, apesar de aquela ser a 27ª cerimônia do Prêmio Shell, era a primeira para a qual tinha sido convidada. “Obrigada à comissão que me escolheu a esta altura da minha vida e carreira”, disse. “Em um momento de desânimo, vem um sopro de vida.”
De três indicações, a peça Caros Ouvintes, que reabriu, em agosto, o auditório do Museu de Arte de São Paulo (Masp), levou duas: Música, de Ricardo Severo, e Cenário, de Marco Lima. O cenógrafo, que também concorria pelo trabalho em Vidas Privadas, lembrou que participou da elaboração da primeira cerimônia do Prêmio Shell, em 1989.
Rodolfo García-Vázquez recebeu o prêmio de Autor por Pessoas Perfeitas, texto escrito a quatro mãos com Ivam Cabral. No palco, ele lamentou a ausência do parceiro, que não compareceu à cerimônia por estar fazendo um tratamento. Lembrou, ainda, que o texto nasceu como roteiro de filme, mas acabou sendo adaptado para teatro.
A categoria Inovação premiou a Companhia Pessoal do Faroeste pelo trabalho de ocupação da região da Luz, colaborando para a revitalização do local, hoje parcialmente tomado por usuários de crack. Cercado por membros do grupo, o diretor Paulo Faria dividiu o prêmio com o único concorrente (o Projeto Vira-Latas de Aluguel, que atua na comunidade de Heliópolis) e salientou que a chamada cracolândia é circunstancial e que o espaço é dos usuários de crack por direito.
A cerimônia homenageou o diretor César Vieira, que está à frente do Teatro Popular União e Olho Vivo, com sede no Bom Retiro há quase 50 anos. Em sua fala, Vieira lembrou as lutas de Augusto Boal (1931 – 2009) e Heleny Guaryba (1941 – 1971) pela arte e pela classe teatral.
Confira a lista completa de premiados no 27o Prêmio Shell de São Paulo
Autor
Ivam Cabral e Rodolfo García-Vázquez – ‘Pessoas Perfeitas’
Direção
Silvana Garcia – ‘Não Vejo Moscou da Janela do meu Quarto’
Ator
Rubens Caribé – ‘Assim É (Se lhe Parece)’
Atriz
Denise Del Vecchio – ‘Trágica.3’
Cenário
Marco Lima – ‘Caros Ouvintes’
Figurino
Glória Coelho – ‘Trágica.3’
Iluminação
Beto Bruel – ‘Não Vejo Moscou da Janela do meu Quarto’
Música
Ricardo Severo – ‘Caros Ouvintes’
Inovação
Cia. Pessoal do Faroeste – Trabalho de ocupação e intervenção social e artística que contribui para transformação e revitalização urbanas da região da Luz
Homenagem
César Vieira – Trajetória artística junto ao Teatro Popular União e Olho Vivo e atuação política na defesa da classe teatral