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Preciosidades do pianista Andras Schiff

Os americanos e ingleses a chamam de “encore”, assimilando a palavra francesa, mas os franceses, como nós, também gostam de chamá-las de “bis”. São as peças curtas e de efeito com que os músicos presenteiam o público após grandes performances. Virtuoses do pianismo romântico da primeira metade do século 20, como Horowitz ou Rubinstein, dividiam seus recitais em três partes: peças mais corpulentas na primeira parte; e outras mais leves na segunda. “Eles”, escreve o pianista húngaro Andras Schiff, 63 anos, “não queriam cansar o público. Porque na sequência vinham as peças não escritas no programa, os ‘bombons’, os ‘encores’, para deliciar as plateias”.

Há exceções, claro. A melhor piada sobre bis, verdadeira porque contada pela vítima, é do pianista Rudolf Serkin (1903-1991): “Eu tinha 17 anos. No final do concerto, Busch (Adolf Busch, excepcional e safo violinista que formava duo com o adolescente) me disse que eu deveria tocar um encore. ‘O que devo tocar?’ perguntei. As Variações Goldberg, respondeu fazendo piada (a peça tem duração de uma hora). Mas eu o levei a sério. Quando terminei as Goldbergs, havia só quatro pessoas na plateia: Busch, o pianista Arthur Schnabel, o musicólogo Alfred Einstein e eu”.

Em plena maturidade e dono da musicalidade rara que só muito poucos possuem hoje em dia, Schiff vai fazer dois recitais na Sala São Paulo: em 22 de agosto toca o primeiro livro do Cravo Bem Temperado; dois dias depois, um recital com seus compositores preferidos, em que cabem outro Bach (as Invenções a Três Vozes), dois Bartóks, a sonata 1.X.1905 de Janacek e a sonata n.º 1 op. 11 de Robert Schumann. Enquanto nos preparamos para essas duas noites que prometem ser especiais, a ECM acaba de lançar um CD intitulado Encores After Beethoven. São os bis que ele deu nos recitais realizados entre 2004 e 2006 na sala Tonhalle de Zurique com a integral das sonatas do compositor. Os CDs foram lançados ao longo dos anos – até que em 2016 a ECM juntou as 32 sonatas numa caixa com 11 Cds.

Mas os “encores” não estão na integral. Saem agora neste delicioso CD isolado. Com Schiff, nada é o que parece. Algumas até podem ser consideradas “bombons”, mas ele construiu um itinerário que liga cada bis com as sonatas que ele havia executado no recital. “O que tocar depois de cinco sonatas de Beethoven?”, pergunta-se. E responde: “Peças que se relacionem com as sonatas tocadas”, claro. Assim, por exemplo, o “Andante Favori”, foi inicialmente planejado por Beethoven como segundo movimento da Sonata Waldstein. Por isso, ele o tocou após esta sonata.

Os links vão se sucedendo e iluminando cada um dos recitais que resultaram nesta incrível integral das sonatas gravadas ao vivo – de tal modo que você se sente obrigado a comprar também a caixa de 11 CDs da integral para perceber melhor essas ligações. Há diversas peças de Bach que Schiff toca como encores, porque Beethoven estudou o Cravo desde criança. Apenas no recital das três grandes sonatas finais, op. 109, 110 e 111, ele não se permite bis. “A arietta do op. 111 é seu adeus ao gênero da sonata para piano. É melhor curtir o silêncio.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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