“Pai, como se escreve beautiful?”, pergunta Ana, (a estreante Hanaa Bouchaib), enquanto faz o dever de casa de inglês. “É como se fala. B-i-u-t-i-f-u-l”, responde o pai, vivido por um inspirado Javier Bardem. A cena é a representação perfeita do protagonista do longa, Uxbal. É, também, o melhor título para o filme de Alejandro González Iñárritu (da trilogia “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel”), que entra hoje em cartaz. O longa foi indicado ao prêmio de melhor filme estrangeiro do Globo de Ouro, mas acabou perdendo a disputa para o dinamarquês “Em Um Mundo Melhor”. No Oscar, já é um dos pré-selecionados, na mesma categoria.
“Biutiful” é um filme diferente dos outros de Iñárritu, que compõem a chamada Trilogia da Morte. É o primeiro trabalho do diretor sem o roteirista Guillermo Arriaga. Toda a produção é edificada na atuação intensa de Bardem, num trabalho que lhe rendeu o prêmio de melhor ator em Cannes. Ele presente em quase todas as cenas. Uxbal, logo no começo do longa, descobre ter câncer terminal. Sua vida deve se acabar em, no máximo, dois meses.
Ele é um tipo contraditório. Amável com os dois filhos. Duro nos negócios. Ama e odeia a ex-mulher. Trabalha com negócios ilícitos, que envolvem venda de mercadoria pirateada por imigrantes senegaleses e negocia um regime de semiescravidão para chineses ilegais. Sabe que traz sofrimento a essas pessoas. Sente-se responsável por isso e até cria uma relação afetiva com alguns deles. De qualquer forma, ainda precisa do dinheiro. E assim segue a sua vida de maneira… humana. Deliciosamente humana. É por isso que o título, “Biutiful”, caiu tão bem. Uxbal representa um pai atencioso, que só quer ajudar. E o faz, da maneira que pode, mesmo que seja ensinando erradamente, como a grafia de beautiful.
Mas é Bardem quem torna o filme especial. Sua capacidade interpretativa, o definhamento que exibe com o passar dos dias – de homem jovial a decrépito – é de impressionar. Mas o diretor peca ao colocar temas demais numa história que já seria bonita por si só: imigração ilegal, corrupção policial, drogas e espiritismo – Uxbal também é sensitivo. Mas quando o filme se limita a narrar os últimos dias de um homem, torna-se belo. Ou biutiful. As informações são do Jornal da Tarde.