Os cinemas reservam para o público teen a estréia nacional de Harry Potter e a Câmara Secreta, tendo os adultos duas opções de muito respeito: o brasileiro Madame Satã e o argentino O Filho da Noiva.
Graças ao elenco tarimbado, registrando-se a última aparição de Richard Harris em um filme, a série inspirada nos best-sellers de J.K. Rowling pode atrair o público adulto. Mas a história é a mesma e até tem o início bem igual ao primeiro filme: o bruxinho (Daniel Radclife) na casa dos tios, amargando umas férias monótonas, até ser resgatado por um amigo, o delfo Dobby, uma criação digital que atua bem melhor que o elenco infantil.
Harry e a Câmara Secreta, dirigido por Chris Columbus, vale-se dos mesmos atores do primeiro filme da série, incluindo o inglês Richard Harris, falecido no mês passado, de câncer, aos 72 anos. Sua última atuação é justamente no papel de Dumbledore, o sábio e amado diretor da escola de bruxos, onde Harry é aluno nota 10. Outro destaque do elenco é o insuperável Kenneth Branagh; mas a ele e seus colegas de elenco o enredo pouco reserva de desempenho. A crítica internacional, mesmo assim, ainda acha que este filme é melhorzinho que o outro.
Há, no entanto, uma unanimidade crítica a favor de O Filho da Noiva, filme argentino com distribuição nacional pela Warner, após excelente desempenho em festivais desde o ano passado. A platéia, para início de conversa, terá o prazer de rever a atriz Norma Aleandro, a protagonista de A História Oficial, o mais premiado filme da Argentina. Ela contracena com Héctor Alterio, também do elenco de A História Oficial.
Norma e Héctor interpretam um casal de idosos que deseja sacramentar a união na igreja, com apoio do filho Rafael (Ricardo Darín, também brilhante no papel) – um quarentão em crise, tal qual sua pátria. A direção é de Juan José Campanella, que atua na tevê norte-americana e inspirou-se em seus próprios pais para delinear o melodrama e os personagens.
Do Brasil, chega às telas Madame Satã, exibido na mostra paralela do Festival de Cannes. Com o ator baiano Lázaro Ramos no papel do personagem carioca, notabilizado no submundo da Lapa, Karim Ainouz faz sua estréia como diretor. (Ele é co-roteirista de Abril Despedaçado.) Falecido aos 76 anos, João Francisco dos Santos (Madame Satã) viveu como artista, presidiário, malandro, homossexual, pobre, negro e mito. Seu cotidiano é recriado no cinema com clima dos anos 30, iniciando quando João Francisco ainda não era Madame Satã, e sim o camareiro de uma vedete (Renata Sorrah). O brilho dos cabarés mistura-se ao mundo soturno da ralé humana.