As primeiras rodadas de palestras e discussões sobre os caminhos da música dos novos tempos foram realizadas na tarde de quinta-feira, 5, no Porto Musical, o evento que se consolida como o mais importante no País com este perfil. A sétima edição do encontro, como as anteriores, está usando instalações no bairro do Recife Antigo para abrigar as conferências que receberem plateias formadas sobretudo por profissionais de música como produtores de festivais, integrantes de bandas de vários estados e programadores de shows.

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A economia criativa e as novas possibilidades de mercado para a música foram temas de uma mesa redonda que teve como participantes o produtor colombiano Octavio Arbelaez, o diretor do Porto Digital, Chico Saboya, e a chefe do departamento de cultura do BNDES, Luciane Gorgulho. Arbelaez, por sua importância no desenvolvimento da chamada economia criativa e por seu envolvimento na transformação radical pela qual passou Medelín, na Colômbia, de centro violento a cidade mais criativa do mundo, Arbelaez merecia uma mesa só para ele. Como disse no início de sua explanação, deu apenas uma pincelada em sua experiência.

A circulação de bandas envolvidas em projetos coletivos, disse Arbelaez, deve romper com formatos já consagrados e privilegiar grupos desconhecidos. A economia criativa na música, tema central da palestra, deve criar novos modelos de negócio que provoquem um impacto em sua cadeia produtiva e que se traduza em melhoria de vida de quem participa dela. “Tratamos para que, na mesa, haja pão para todos”, disse Arbelaez.

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Contestado pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo sobre qual experiência de Medelín poderia efetivamente funcionar no Brasil para que a cultura ganhasse a mesma dimensão, a ponto de reduzir os índices de violência, o colombiano disse algo que só aparentemente poderia ser óbvio: o investimento em educação. Os colombianos levaram isso mais a sério, de uma forma que o Brasil nunca fez, destinando uma fatia do bolo orçamentário para esta área que fica entre 40% e 45%. O Brasil luta para aprovar uma PEC que garanta 2% da arrecadação para o setor cultural.

A presença da chefe da cultura do BNDES (Bando Nacional de Desenvolvimento) rendeu um momento importante, colocando frente a frente produtores de cultura com um organismo ate tem dinheiro e departamento próprio para viabilizá-la. Ao contrário de bancos e grandes empresas estatais, Luciane acredita que é preciso olhar para o meio cultural com menos paternalismo pontual e mais visão global. “Precisamos ver o setor de música com todo o potencial econômico que ele tem”. Luciane mostrou gráficos que apontam para um grande crescimento do setor da economia criativa na área cultural para 2015 no Brasil, mas revelou desafios para que o meio cultural possa se estruturar: o meio, como setor, ainda está nascendo; há carência de estudos confiáveis do mercado; o espírito de informalidade dos artistas impede um mapeamento mais rigoroso com balanços sólidos; e as dependências provocadas pelas leis de incentivo geram distorções de realidade. O setor musical, desestruturado para o BNDES, recebe uma fatia mínima de desembolsos feitos pelo banco, algo em torno de 3%.

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Chico Saboya, diretor do Porto Digital e do Porto Mídia, experiências transformadoras no Recife, polos de desenvolvimento de software e de economia criativa, fez um paralelo histórico interessante sobre tecnologia e música. Desde sempre, uma caminha ao lado da outra. A evolução da primeira, desde o surgimento da indústria fonográfica até a compressão digital dos MP3, passando pelo CD, implica em revolução comportamental da segunda. E se o mercado dos discos físicos vem encolhendo há 20 anos, ecoando a palavra crise, o novo setor de música digital cresceu mais de 50% no mundo em 2013, graças a empresas de assinatura como Deezer e Spotfy. Nos Estados Unidos, refletiu Saboya, o mercado dos LPs apresentou crescimento estimulado, ironicamente, pela música digital. Os ouvintes conhecem trabalhos de artistas por meios digitais e, quando gostam, vão às lojas comprar seus discos.

Outras mesas de destaque de quinta tiveram a diretora de programação do evento Summerstage, do Central Park de Nova York, a brasileira Paula Abreu, e a produtora francesa Corinne Selles. Paula deu dicas para artistas que querem fazer turnês pelos Estados Unidos. O segredo está nas negociações. Os e-mails devem ser objetivos. E pouca coisa irrita mais os profissionais norte-americanos do que a falta de resposta rápida pela internet. “Já ouvi dizerem que quem não responde é porque não tem comprometimento”, disse Paula. A palavra, mesmo antes dos contratos físicos, vale muito nos Estados Unidos. Os novatos no mercado americano precisam também ter bons vídeos no YouTube, fazer parceria com artistas reconhecidos ou serem indicados para os programadores de lá. “É muito difícil termos grupos que foram colocados nos palcos porque foram encontrados do nada. É muito importante ter uma indicação.”