Por que mulher gosta de apanhar

d33.jpgA veterana jornalista Christina Autran começou como estagiária no Jornal do JB, publicação interna do Jornal do Brasil. Depois decolou: fez carreira lá e também trabalhou, entre outros lugares, nas revistas Manchete e Veja (ainda nos números experimentais da então nova revista), e na sucursal de O Estado de S. Paulo em Brasília. Em seus muitos anos de profissão, Christina teve a oportunidade de conversar com personalidades que hoje fazem parte do imaginário e da cultura brasileiras. Em Por que a mulher gosta de apanhar e outras reportagens dos anos 60s e 70s, que a Editora Nova Fronteira lança em fevereiro, estão reunidas 30 entrevistas e dois artigos, nos quais o leitor poderá conhecer melhor alguns destes grandes talentos que marcaram a época.

Os anos 60 e 70 foram décadas de muitas transformações: a Guerra do Vietnã era motivo de debate, os Beatles estavam no auge do sucesso, os rapazes protestavam deixando os cabelos crescer, as mulheres questionavam a virgindade e o consumo de drogas aumentava. No Brasil, havia as edições do Festival da Canção, o Cinema Novo, a euforia com o tricampeonato mundial de futebol conquistado no México, os militares, a censura, o milagre econômico e a luta contra a repressão do governo. Apesar desse cenário, Christina viveu o que considera seus anos dourados, entrevistando artistas, poetas, escritores, dramaturgos e jornalistas, gente que tinha algo a dizer ou mostrar no campo da sensibilidade. Políticos não fizeram parte do rol de entrevistados. ?Não faziam o gênero dela, o que ajuda a dar à coleção uma virtude especial: que dê para se perceber, não tem ninguém mentindo no elenco. Ao menos, seguramente, por razões sórdidas?, avalia o jornalista Luiz Garcia no prefácio do livro.

Na lista, estão, por exemplo, os polêmicos Plínio Marcos e Nelson Rodrigues  o título do livro refere-se ao bate-papo que ela teve com Nelson para o Livro de cabeceira da mulher, da editora Civilização Brasileira. Sobre ele, Christina lembra que o dramaturgo, jornalista e escritor foi sujeito de ?infinitas? entrevistas suas, mas boa parte delas jamais foi publicada. O que o levou a dizer na época que a imprensa brasileira tinha criado um novo gênero: a das entrevistas que não são impressas. Também estão na lista de entrevistados as damas do teatro Cacilda Becker e Fernanda Montenegro, o colunista social Ibrahim Sued e o irreverente Carlos Imperial. Eles dividem espaço com a jovem socialite Sílvia Amélia, na época, mulher de Paulo Fernando Marcondes Ferraz, a atriz Norma Bengell, a cubana autora das primeiras novelas de sucesso da TV Globo Gloria Magadan e a eterna Garota de Ipanema Helô Pinheiro, então Heloísa Eneida, recém-casada e curtindo a primeira gravidez. Todos abordados com o mesmo respeito e tratados com a simpatia que mereceu respostas como o carinhoso bilhete de agradecimento de Bibi Ferreira e uma crônica de Clarice Lispector.

Talentos que despontaram na época, como Edu Lobo, Chico Buarque e Glauber Rocha falam de seus trabalhos e revelam traços de suas personalidades. Christina é uma jornalista capaz de deixar os entrevistados completamente à vontade e tem a habilidade de driblar os obstáculos demonstrada, por exemplo, na sua conversa com o escritor e embaixador João Guimarães Rosa, sua prova de fogo para ser admitida no Caderno B, do Jornal do Brasil. Conhecido por nunca falar com a imprensa, Christina ficou empolgada com a possibilidade de entrevistá-lo. Chegou ao Palácio do Itamaraty, ainda no Rio, e, enquanto aguardava na poltrona indicada por ele, observou o que se passava ao redor dela. Sua atenção aos detalhes foi em seu favor quando Rosa docemente lhe disse que não faria exceção à sua regra. Restou-lhe escrever um curioso texto que surgiu do único material que tinha: suas observações.

Christina Autran faz de Por que a mulher gosta de apanhar e outras reportagens dos anos 60 e 70 uma verdadeira aula de jornalismo.

Título: Por que a mulher gosta de apanhar e outras reportagens dos anos 1960 e 1970. Autor: Christina Autran. Formato fechado: 14 x 21. N.º de páginas: 240. Preço de capa sugerido: R$ 29,90.

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