Governo bate cabeça para ocupar os 28
mil metros quadrados do novo museu.

Até novembro, Curitiba deve ganhar o cinematográfico Museu de Arte do Paraná, que vai ocupar as instalações do Edifício Castelo Branco, projetado por Oscar Niemeyer e que foi sede de diversas Secretarias de Estado de 1978 até o início deste ano, no Centro Cívico. O prédio está sendo adaptado e vai receber um anexo em forma de “olho”, assinado pelo próprio Niemeyer.

O problema é que 15 milhões de reais estão sendo ali enterrados sem que se saiba como serão preenchidos os seus 28 mil metros quadrados. A questão tornou-se polêmica no próprio meio cultural, e ao meio dela surge a lembrança da insalubridade do prédio.

Apesar do pedigree do projeto arquitetônico e do enaltecimento de que pela primeira vez em seus 94 anos de vida Niemeyer concordou em alterar um projeto, o Edifício Castelo Branco nunca foi um lugar dos mais convidativos. Soturno, com imensos corredores subterrâneos, o prédio sempre padeceu de umidade crônica. Água era vista escorrendo pelas paredes e os funcionários chegaram a reivindicar salário insalubridade.

O engenheiro Max Rahm, um dos responsáveis pela obra coordenada pelas secretarias de Desenvolvimento Urbano e de Assuntos Estratégicos, não nega o problema da umidade. E conta que a solução é a impermeabilização da parte subterrânea, implantação de um sistema de drenagem mais “pesado” e instalação de desumidificadores e equipamentos antimofo. Mas não soube revelar o custo referente apenas a esta parte da obra, que vem ser a mais sensível, pois que está em jogo a vida de obras de arte.

“Tudo está sendo acompanhado por uma equipe de museólogos da Secretaria de Assuntos Estratégicos, que cuida exclusivamente das condições do novo museu”, diz o engenheiro Rahm. Mas há uma semana a reportagem vem tentando obter entrevista com algum museólogo dessa equipe, mas encontra um problema sério: a resistência do secretrário Alex Beltrão, de Assuntos Estratégicos, em conceder entrevista e a alegação de seu gabinete que apenas ele está autorizado a dar o nome de algum museólogo. E a Secretaria da Cultura, a quem o futuro museu está subordinado, não colocou nenhum perito do assunto para analisar ou acompanhar a obra.

O que Max Rahm pode adiantar é que o cronograma tem sido cumprido à risca. Duas empreiteiras, a Cesbe e a cascavelense Sial, sob a supervisão direta de Niemeyer, estão tocando a obra com recursos provenientes do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Em setembro, um mês antes das eleições, a reforma do prédio antigo fica pronta. E em novembro, um mês depois das eleições, será inaugurado o anexo. E cabe à própria Secretaria de Assuntos Estratégicos preparar a exposição inaugural e contratar curador de âmbito internacional.

Bem, quanto ao que se colocar dentro do museu é outra novela. A Secretaria de Cultura conseguiu realizar uma reunião com os diretores de museus, mas nada se sabe de suas resoluções. E ninguém está à vontade para falar sobre o assunto. Afinal, pela vontade do governador Jaime Lerner, eleito presidente da União Internacional dos Arquitetos, o Edifício Castelo Branco vai abrigar as coleções dos museus de Arte Contemporânea, que assim vai ser extinto, e do Museu de Arte do Paraná.

O Museu Paranaense, fundado em 25 de setembro de 1876, vai perder sua sede no histórico palacete da Praça Generoso Marques, pois será transferido para o prédio-sede do atual Museu de Arte do Paraná, nas Ruínas de São Francisco. As obras de arte e históricas do Estado vão viver uma autêntica maratona a partir de novembro. Mas quem está se dando conta disso?

Mudanças questionadas

A transferência do acervo do Museu de Arte Contemporânea, que semana passada gerou protestos de artistas, ganhou uma voz contrária de respeito: a do seu idealizador e primeiro diretor, o artista plástico Fernando Velloso. Para ele a extinção da casa inaugurada em março de 1970 “é um atentado contra a cultura do Paraná”: “O MAC foi feito com o apoio da classe artística e com muita dificuldade. Hoje, seu setor de pesquisa e documentação é o melhor do Brasil”.

Embora concorde com o novo museu em um grande espaço, Velloso critica a maneira “imperial” como as coisas foram decididas, e diz que o governo e os arquitetos responsáveis estão muito mais preocupados com o prédio do que com o seu conteúdo. “Nós, artistas, não estamos nem um pouco preocupados com a assinatura de arquiteto, mas em ter um lugar adequado para expor nosso trabalho”. Sobre o acervo, ele repara: “Para mim, museu é o conteúdo. Não adianta gastar R$ 15 milhões num prédio e não ter um centavo para comprar obras”.

Também ex-diretora do MAC, a chefe do Departamento de Escultura da Escola de Música e Belas Artes, Elizabeth Titon, diz: “Acho muito importante a questão educacional, tanto que na minha gestão a ênfase foi a educação, o acesso e a orientação”, comenta. “Mas a transferência sem consultar ninguém é meio ditatorial; o governo decide ocupar aquele espaço e faz, sem ouvir a opinião das pessoas e sem considerar a especificidade de cada museu, sua história e suas origens. Isso é o pior de tudo”.

Elizabeth também acha que não era necessário desalojar os atuais museus: “Com esse dinheiro todo, dava para construir um museu mais barato e adequado”. Mas acha “excelente” a utilização da sede do MAC pela Escola de Belas Artes, “já que o museu vai ser retirado de qualquer jeito”. “Mas me assusta a Belas Artes ganhar o espaço sem ganhar o dinheiro para montar a estrutura que precisa; espero que o governo dê esse dinheiro. Porque para atender as necessidades reais dos museus e das escolas nunca tem dinheiro – mas para construir um prédio daqueles, tem. Não adianta um prédio belíssimo com um acervo defasado”.

O diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Curitiba, José La Pastina, lembra que o Edifício Castelo Branco ” era uma tortura para os funcionários que lá trabalhavam, eles não tinham “nem visão do exterior, era horrível”. E até acha que o local ” tem vocação para abrigar um museu – grandes paredes fechadas, boas condições de iluminação, ventilação…”. Entretanto, faz uma ressalva: “Seria lamentável a extinção de dois museus como o MAC e o MAP, o primeiro com uma tradição de mais de 50 anos, e o segundo uma grande idéia de 16 anos”. Entretanto, arremata: “É uma grande honra ganhar um museu reprojetado pelo grande papa da arquitetura moderna. Devíamos ficar orgulhosos”.

Importa mais a arquitetura?

Os museus, que há séculos são os guardiões das grandes obras de arte em todo mundo, vêm realmente transformando-se, eles próprios, em obras muito especiais. Ao lado de museus como o Guggenheim, de Bilbao, na Espanha, e do Tate Modern, em Londres, surge em Wisconsin, nos Estados Unidos, o Museu de Arte Milwaukee. Resultado de ousados projetos arquitetônicos, espaços como esses encabeçam o que se pode chamar de museus para um novo milênio.

Assinado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava, o edifício que abriga o Museu de Arte Milwaukee, hoje um símbolo para a cidade, ostenta um dos projetos arquitetônicos mais desafiadores da arquitetura mundial contemporânea, o que lhe garantiu ser um dos vencedores do Solutia Design Award, tradicional prêmio norte-americano com a marca Solutia.

Ponte suspensas para pedestres e uma estrutura que lembra uma vela de barco no topo da construção e que se inclina em um ângulo de 45 graus sobre as águas do Lago Michigan, compõem a estrutura da obra que usa o vidro laminado com PVB Saflex, da Solutia, como um dos seus principais elementos construtivos. Ao especificar o laminado com película na cor azul, Calatrava, além da cor, buscou agregar à construção o controle solar, resistência a impactos e proteção contra os raios UV.

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