Helio Flanders chega animado ao estúdio na zona sul de São Paulo. Com uma folha em branco nas mãos, tem várias ideias para as fotos que vão ilustrar a reportagem. “Pega a caneta, David (guitarrista da banda). Vamos escrever: Vanguart plays Dylan (Vanguart toca Dylan)”, diz. O gesto faz alusão ao emblemático clipe Subterranean Homesick Blues, de 1965. No vídeo, Bob Dylan aparece parado em frente à câmera, segurando pôsteres com trechos da letra da música. O vocalista não esconde a hesitação ao falar sobre seu maior ídolo e influência. Sem dar pausas nas argumentações, crava: “O Dylan nunca teve medo de se reinventar musicalmente. Todo mundo estava habituado a vê-lo com o violão, fazendo o bom e velho folk. De repente, em 1966, no Albert Hall, em Londres, ele surge com uma guitarra nas mãos e choca o mundo. Bowie e os Beatles também se reinventaram várias vezes. Só que Dylan foi o precursor”, lembra.
A genialidade de Dylan foi essencial para a formação do Vanguart, que sobe ao palco do Sesc Santana nos dias 23, 24 e 25 para três apresentações só com clássicos do cantor e compositor norte-americano no período de 1962 a 1976. O repertório do show abrange as mais variadas fases, com Blowin’ in the Wind, Like A Rolling Stone, Ballad Of a Thin Man, além de outros clássicos como Lay, Lady, Lay, Mr. Tambourine Man e Tangled Up In Blue. “O set é algo delicado. Dependendo das escolhas, o show pode ficar chato. O Bob Dylan tem algumas coisas bem específicas. Muitas músicas são longas e não caem bem ao vivo. Por isso, os arranjos foram feitos de forma delicada, pensando, obviamente, em quem estará na plateia”, complementa Hélio.
Os três discos de estúdio do Vanguart, Vanguart (2007), Boa Parte de Mim Vai Embora (2011) e Muito Mais Que O Amor (2013), são heterogêneos, mas todos transitam pela obra de Dylan. De promessa à realidade do indie rock nacional, muito do amadurecimento dos arranjos e das letras da banda tem a influência dele. “Não acho que a nossa música atual, na verdade, tenha muito a ver com o som do Bob Dylan. No começo da carreira, certamente, sim. Eu tentava imitá-lo de todas as formas. Tanto no violão quanto no jeito de me vestir”, revela ainda.
O amor dele por Dylan, todavia, não foi à primeira vista. Na adolescência, Helio não gostava do trabalho do músico. Achava aquela voz rouca e trêmula muito diferente. Sua opinião só mudou depois que uma ex-namorada insistiu bastante. “Não curtia mesmo. Achava aquele jeito de cantar tão estranho. Parecia um pato. Uma ex-namorada de adolescência deixou um disco na minha casa. Só assim pude ouvir com calma. Aquilo teve um impacto gigantesco na minha personalidade e, claro, na trajetória musical”, crava. Esta não é a primeira vez que o Vanguart se aventura em releituras de bandas internacionais. Desde 2010, a banda tem o projeto Vang Beats, no qual interpreta uma infinidade de clássicos dos Beatles. Eles também já tocaram o disco Blood on the Tracks (1975) na íntegra, também no Sesc Santana. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.