“Ao mais humano poeta do Brasil, para mim, o maior dentre os vivos, envio esse ajuntado de versos, escritos com a pressa dos adolescentes, mas, também, com o seu coração. Poeta Manuel Bandeira, este livro custa nas livrarias Cr$ 15,00, mas para o senhor eu peço apenas uma compensação: leia-o.” Assina: Ferreira Gullar, São Luís, 25/8/1949.

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O poeta maranhense tinha 18 anos; Bandeira, 63. A primeira edição de Um Pouco Acima do Chão, a estreia, em trovas e sonetos, do jovem José Ribamar Ferreira, está no ponto de partida da exposição retrospectiva que será aberta nesta quarta, 11, ao público na galeria do BNDES, no centro do Rio.

O mote são os 85 anos de Gullar (completados em 10 de setembro de 2015), cujos registros documentais vêm sendo organizados há 22 com o auxílio de sua mulher, a poeta Claudia Ahimsa, que ele conheceu na Feira do Livro de Frankfurt, quando ela tinha apenas 29.

São fotos, livros, pinturas, colagens e memorabilia, como a Olivetti onde foi escrito o Poema Sujo (1975), e páginas do original, com rasuras e anotações sob o amarelado do tempo. Vídeos e painéis tocam em temas como o neoconcretismo, o engajamento político, exílio e literatura infantil.

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O Poema Enterrado, instalação poética de 1959, nunca exibida ao público, recebe os visitantes. Trata-se de uma cubo de 3 metros, com três cubos pequenos no centro, vermelho, verde e branco. O visitante entra e vai retirando um a um, até encontrar, “enterrada”, a palavra que compõe o poema, que valerá a experiência. Numa vitrine, está o projeto, que Gullar publicou à época no Jornal do Brasil. Hélio Oiticica viu e quis reproduzi-lo na casa de seu pai, na Gávea. Virou “o primeiro poema com endereço da literatura mundial”, que iria submergir com uma chuva forte.

O Gullar artista plástico se mostra nas colagens em relevo da série recente Revelação do Avesso, que nasceu em papéis coloridos na mesa da sala de seu apartamento, em Copacabana, como “uma forma de ocupar o tempo” e foi reproduzida em metal, sendo vendida pela Dan Galeria – foram comercializadas cerca de 90 peças, com preços de R$ 12 mil a R$ 15 mil.

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“Não tinha pretensão de fazer obra de arte. Hoje, a arte é jogar cocô na tela, rato morto, que o artista faz para colocar na casa nos outros, não na dele. As pessoas tiveram interesse pelo que eu fiz. Acharam bonito e original”, diz Gullar. “Arte é aquilo que transforma tristeza em alegria, é uma forma de superar a tragédia. Botar três urubus num gaiola não é arte, é sacanagem. Tanto que não existe mais crítica, como existia quando eu era crítico. Acabou porque hoje não há o que se dizer.”

A rotina de trabalho atual inclui duas crônicas semanais, nas quais tem falado do desconcerto nacional com a política, as solicitações sobre reedições de seus livros e as idas à Academia Brasileira de Letras (tomou posse há um ano em meio), duas vezes por semana.

A poesia acabou junto com seu espanto com a vida. “Gostaria de saber por que não me espanto mais, mas não posso me espantar de propósito. Não vou escrever bobagem. Não tem a ver com a idade. Rimbaud parou com 19 anos. O que eu escrevi está bom.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.