É muito engraçado – homenageado pelo Festival Varilux do Cinema Francês, Pio Marmaï esteve no Brasil acompanhando dois filmes da programação que agora estrearam. Um deles já estava em cartaz, o drama Aliyah, de Elie Wajeman. O outro entrou na quinta-feira. É o melhor. A comédia Beijei uma Garota, da dupla de diretores Noémie Saglio e Maxime Govare, valeu a Pio Marmaï o prêmio de melhor ator de comédia num festival que se realiza nos Alpes.

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Ele faz um rapaz que, logo no começo, acorda na cama com uma garota. Uma situação nada inusitada, exceto pelo fato de que ele é gay e está de casamento marcado. O fato balança as certezas afetivas e sexuais do protagonista que… volta para o armário.

Nascido em Estrasburgo, Pio, além da sua atividade como ator, faz um importante trabalho como dramaturgo e diretor de teatro em Valence, no sul da França. Trabalha principalmente com jovens carentes. O objetivo não é apenas artístico, mas também social. Antes de integrar a programação do Festival Varilux deste ano, ele participou na do ano passado com Um Amor em Paris, de Marc Fitoussi, estrelado por Isabelle Huppert. É mais conhecido como ator de dramas.

Aliyah o coloca no papel de um jovem judeu que leva uma vida errática na França e volta para Israel atraído pela promessa de um emprego. O filme aborda um tema clássico da cultura judaica, o sentimento de não pertencimento, associado ao êxodo. Pio cria um personagem exasperado. Wajeman muitas vezes cola a câmera na cara do ator, mas o que ele cala é mais importante do que aquilo que diz.

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Beijei uma Garota – o título francês é Toute Première Fois, algo como Há Sempre uma Primeira Vez – é mais descontraído, sem deixar de abordar temas graves. Falando de seu personagem, Pio diz que filmes em que homens e mulheres descobrem ou redefinem sua orientação sexual e saem do armário são a tônica da correção política do nosso tempo, mas o oposto é muito raro. E a França, como ele diz, é um país muito conservador. “Embora a lei já permita o casamento gay, ainda é muito estigmatizado do ponto de vista religioso. Durante a promoção do filme, também percebi como a homossexualidade ainda é tabu. Você pode não acreditar, mas ela ainda é motivo de vergonha para muitos pais, que não sabem como lidar com isso. Convenci-me de que é importante que surjam filmes como esse e que a lei comece a vigorar de fato, até se tornar tão natural que deixe de ser a exceção.”

Mas voltar para o armário… No Brasil, como em toda parte, existem sempre movimentos disparatados para “curar” gays. “Não teria feito o filme só porque tem um personagem gay. O que me atraiu foi o conjunto das observações. Por exemplo, os pais da ficção vivem na contracorrente da realidade que falei. Eles não têm muita paciência com o casamento hetero da filha e aprovam 100% o parceiro gay do filho. Veem a união como uma forma de contestação e se decepcionam quando ele vai atrás da garota. E o desfecho é ótimo, divertido e, nas várias sessões do filme a que assisti, o público também.”

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Esse final tem duas piadas rápidas. Uma envolve a mulher do protagonista e a outra, o ex. E o filme ainda tem o amigo hetero de Pio. Ao mesmo tempo que aceita o amigo como é, ele tem a curiosidade que muitas pessoas sentem em relação à intimidade de duas pessoas do mesmo sexo. Quer saber quem faz o quê. O curioso é que o ator assemelha-se a um Vin Diesel mais jovem e com a testosterona voltada para o sexo, não para a pancadaria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.