Leitora dos livros da antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz, a pintora Adriana Varejão, que a conheceu numa ponte aérea entre Rio e São Paulo, pediu a ela que escrevesse um texto para seu livro Entre Carnes e Mares, publicado há cinco anos pela editora Cobogó. Nele, Lilia analisava a presença do barroco e a desconstrução da história do Brasil nas telas da artista, que começou sua carreira há quase 30 anos. A parceria deu tão certo que, cinco anos depois, surge um novo livro da dupla, Pérola Imperfeita: A História e as Histórias na Obra de Adriana Varejão. O livro, publicado em conjunto pela Cobogó e Companhia das Letras, será lançado nesta quinta-feira, 3, às 18h30, na Livraria da Vila Lorena.
Simultaneamente, será aberta sua exposição Polvo, no Galpão Fortes Vilaça.
Há cinco anos sem expor no Brasil, a pintora apresenta na mostra telas da série Polvo Portraits, pinturas faciais geométricas de inspiração indígena que redefinem um mesmo rosto de mulher com traços de diferentes cores. Um conjunto de tintas idealizado pela artista com base na cor da pele do brasileiro complementa a exposição, para a qual foi criada a marca fantasia Polvo. O marco zero da mostra foi uma pesquisa realizada pelo IBGE em 1976, em que o instituto introduziu a questão “qual é a sua cor?”, ouvindo dos pesquisados as mais extravagantes respostas, todas desafiando o bom senso etnográfico.
Com base na pesquisa, Adriana selecionou 33 dessas exóticas cores dos brasileiros (“café com leite”, “queimada de sol” e “enxofrada”, entre elas) e mandou confeccionar uma caixa com 33 tubos de tinta, usados nos 45 retratos expostos na mostra. Múltiplo com tiragem de 200 exemplares, esse estojo de pintura contribui para o lado conceitual de uma exposição de retratos – do rosto da artista – encomendados a outros artistas. São suas intervenções que marcam a autoria desse trabalho.
Reinterpretação, aliás, caracteriza toda a obra de Adriana Varejão, uma “devoradora de imagens de livros”, na definição de Lilia Schwarcz, que recontou a história do Brasil em pinturas paródicas cujas vítimas preferenciais foram os pintores viajantes. De Eckhout a Taunay, passando por Debret, todos eles foram usados na ficção visual da artista carioca, lembrada por seu canibalismo amoroso e anticolonialista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.