Pinacoteca recebe mostra de Marcelo Grassmann

Um cavalo se mistura a um dragão em uma xilogravura criada em 1949 pelo artista Marcelo Grassmann – tratava-se de uma espécie de prelúdio das figuras mitológicas e fantásticas que depois povoariam e se tornariam a marca inconfundível da obra de um dos mais importantes mestres da gravura brasileira, morto em junho do ano passado. O privilégio de acompanhar através de uma linha cronológica não apenas a “criação de um imaginário”, como “a construção da imagem” no trabalho de um criador se faz presente na mostra Marcelo Grassmann: Gravuras do Acervo da Pinacoteca, inaugurada no último sábado, 15, na Estação Pinacoteca. É um exercício fascinante – e pode-se dizer, até didático – para o espectador.

A exposição, com curadoria de Carlos Martins, apresenta uma seleção de 85 gravuras de Grassmann (1925-2013) das 387 obras do artista que o governo do Estado de São Paulo adquiriu em 1969 para o museu. A compra tornou-se importante não apenas pela quantidade de peças – exatamente 102 xilogravuras, 127 gravuras em metal, 102 litografias e 56 provas de estado -, mas por abarcar o percurso criativo do gravador entre 1944 e 69 (praticamente toda sua produção do período, ele próprio afirmou). “Quis dar ênfase à aquisição do conjunto”, diz o curador.

Segundo ele, Renina Katz é outra criadora muito bem representada na coleção de gravuras da Pinacoteca do Estado, com 806 peças (entretanto, doadas à instituição).

Gravador autodidata, reconhecido, especialmente, por sua obra em metal, Marcelo Grassmann iniciou sua experiência gráfica com a xilogravura. Como se vê na exposição, na qual Carlos Martins agrupou conjuntos temáticos em linha cronológica, o início da produção do artista é marcado pelo expressionismo. “Os primeiros trabalhos dos anos 1940 são resultado das marcas de goivas que desbastam a madeira com liberdade e veemência”, define o curador.

Zeloso

Mas o gravador estritamente figurativo, que ficou também conhecido por ser um desenhista primoroso, já tinha naquela época uma preocupação em “buscar mais precisão nos traços e composições mais elaboradas”, afirma Martins. A “linha mais precisa” é criada com experimentações com o buril, e percebe-se ainda, no fim da década de 40, a aparição nas obras em matriz de madeira dos primeiros passos do imaginário fantástico de um “zeloso investigador dos mistérios e sombras que habitam a alma humana”. A introspecção expressionista vai aos poucos ganhando o dado “romântico” na obra de Grassmann, que tem como uma das questões recorrentes a do “ideal do herói”.

Mesmo em se tratando da produção de um artista tão consagrado, é possível descobrir, em uma pesquisa única como esta mostra, informações novas sobre sua obra. Como a importância da litografia em seu trabalho. O ápice dessa experiência técnica ocorre, de fato, em 1954, em Viena, período representado na exposição por oito gravuras. Surgem nelas, por exemplo, o fundo sombrio que depois predominariam, assim como “elementos para imprimir ao seu imaginário um diferencial marcante, com figuras diabólicas, animais horripilantes, composições intrincadas”, descreve o curador. “Daí em diante, ele só faz gravuras em metal, cria uma linguagem sofisticadíssima”, define ainda Carlos Martins. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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