De transparência e leveza se trata a obra que Iole de Freitas criou especialmente para a Pinacoteca do Estado, um “sistema”, como ela diz, suspenso de chapas de policarbonato transparente atravessadas por tubos de aço que transforma seu trabalho numa espécie de espetáculo silencioso, potente. “É sobre a tensão entre linha e volume”, define a artista mineira radicada no Rio, explicando de maneira direta o veio de uma pesquisa a que se dedica há anos.
Iole, que participou da última Documenta de Kassel (12), na Alemanha, em 2007, cria variações escultóricas dessa questão que ela identifica quase sempre a partir de uma mesma matriz de materiais (chapas de policarbonato, sejam translúcidas, transparentes ou opacas) e tubos metálicos (mais densos ou mais sutis, em alguns casos, apenas fios). Mas nesta nova versão feita para São Paulo, seu trabalho ganha um caráter único: é no diálogo com a arquitetura da Pinacoteca do Estado, com paredes de tijolos, andares abertos por janelas internas e por seu teto de vidro – através do qual passa toda a luz natural, o que permite “uma multiplicidade de reflexos” -, que seu ‘sistema’ “conquista uma leveza” especial. “É um desdobramento do próprio pensamento plástico”, ela diz, completando que desta vez seu trabalho está “soltíssimo” – os volumes, apesar de ‘flechados’ pelas estacas de aço, parecem flutuar no espaço.
Visões diversas do trabalho de Iole, que ficará no museu até 31 de julho de 2011, são permitidas pela localização da obra, instalada no vão horizontal e alto que liga, por meio de uma passarela, o hall de entrada do museu com o espaço Octógono – o espectador tem a possibilidade de travar seu embate de maneiras distintas, seja da passarela ou dos andares inferior e superior. Perto e longe; mais luz e menos luz; mais linha e menos linha; fragmento e completude: faz-se uma relação intensa com o trabalho pelo confronto entre o corpóreo e a contemplação.
Iole conta que esta sua atual obra é fruto de uma parceria da Fundação Iberê Camargo, de Porto Alegre, com a Pinacoteca. Entre 2008 e 2009, ela exibiu na instituição gaúcha intervenção com chapas de policarbonato, trabalho criado especialmente para o átrio do prédio. “É o mesmo sistema desenhado para a Fundação Iberê”, ela diz. No entanto, resultados diferentes ocorreram em cada versão, dada a relação da obra com a arquitetura de cada uma das instituições.