Pinacoteca abre mostra com obras de Waltercio Caldas

“Se o artista tem uma missão, acho que é a de melhorar a qualidade do desconhecido”, diz o carioca Waltercio Caldas. Criador consagrado de uma produção erudita, mas, ao mesmo tempo, com senso de humor – de uma obra sofisticada, que se centra na relação do trabalho com o espectador e o espaço que o abriga -, Caldas está sempre a tratar de um campo complexo de reflexão: “as questões da linguagem”, como afirma. Fios de lã, vidro, metais, livros, espelhos são tratados pelo artista como materiais – ou objetos – assim como a cor e o ar. A história da arte volta e outra também é indagada por ele em sua carreira. De fato, não é tão fácil entender de primeira toada o universo de sua obra – e esse foi um dos “atrativos” que engendraram a realização da mostra “Waltercio Caldas – O Ar Mais Próximo e Outras Matérias”, que será inaugurada quinta-feira na Pinacoteca do Estado.

Não se trata de uma retrospectiva, mas de um “ensaio retrospectivo”, como diz Gabriel Pérez-Barreiro, curador desta exposição que já foi apresentada na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, e que depois seguirá para o Blanton Museum of Art da Universidade do Texas, em Austin, nos EUA. A mostra reúne mais de 80 obras de Caldas, um conjunto que perpassa mais de 40 anos de sua trajetória.

“O trabalho dele escapa de uma lógica cronológica. Há poucos artistas em que o atrativo é o fato de não poder compreendê-los no sentido de que seus trabalhos colocam a arte no lugar privilegiado, além do seu discurso. Há uma dinâmica de aproximação e afastamento”, diz Pérez-Barreiro, que assina a curadoria com Ursula Davila-Villa, do museu Blanton. Reunir um “corpo” de criações do carioca é uma forma de contextualizar sua produção, apresentá-la com peso nos EUA. “O trabalho de Caldas foi muito ignorado ou mal interpretado no mais ou menos recente boom e revisão da arte brasileira fora do Brasil”, escreve o curador.

Waltercio Caldas cria imagens, no seu sentido mais puro, tridimensionais, em que não são desconsideradas a relação de sua obra com o espaço e questões como gravidade, transparência, opacidade, presença, ausência e estrutura. “Tudo isso para mim é muito real, objetivo”, define. Há quem diga que sua arte é intelectualizada demais, mas o artista rebate essa ideia. “Acho absolutamente inadequado acreditar que exista apenas dois tipos de artistas – os que são sensíveis e os que são intelectuais. Para mim, numa obra de arte, tudo está em jogo. A emoção, o pensamento, o desejo, o intelecto, nada é desconsiderado. Pensar é uma sensação, um sentimento”, afirma, considerando a dualidade estanque entre razão e emoção como algo do “século 18”.

Artista de uma “geração sem slogan” e sem “ismos”, como ele próprio diz, a da década de 1960, da qual fazem parte também Tunga, Cildo Meireles, José Resende e Antonio Dias, entre outros, cada um de caminho diferente, Waltercio Caldas propõe jogos e seus temas são “circunstanciais” – “a imagem realiza a autonomia da palavra”. Sua instalação “O Ar Mais Próximo” (1991), que está no título da exposição, é feita apenas de fios de lã coloridos no espaço, por exemplo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

WALTERCIO CALDAS

Pinacoteca (Praça da luz, 2). Tel. (011) 3324-1000. 3ª a dom., 10 h/ 18 h. R$ 6 (sáb. grátis). Até 7/4. Abertura quinta-feira, 19 h.

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