Pierre Verger nasceu em Paris, em 4 de novembro de 1904, filho de uma abastada família de origem belga e alemã. O ano de 1932 foi crucial em sua vida: aprendeu um ofício – a fotografia – e descobriu uma paixão – as viagens. Chegou à Bahia em agosto de 1946 e passou a conviver com o povo baiano, freqüentando lugares simples e fazendo muitos amigos. Quando descobriu o candomblé, acreditou ter encontrado a fonte de validade dessa religião e se tornou estudioso do culto aos orixás. Roger Bastide nasceu em 1.º de abril de 1898 em Nîmes, França. Acompanhou, durante três décadas, de trocas de idéias e colaboração mútua, o processo de crescimento e redimensionamento de interesses de Verger.
Os dois estão em Verger-Bastide: Dimensão de uma Amizade, organizado por Angela Lühining, com edição da Bertrand Brasil. Por suas 260 páginas ilustradas, tendo por fio condutor a viagem de Bastide à África em 1958, está a história de uma vivência de respeito à cultura afro-brasileira. Verger documentou a viagem com imagens. A amizade entre os dois, que revela outros aspectos de Verger, surgiu à tona dos arquivos de Pierre Verger, falecido em 1996, e inicia uma série de publicações sob a égide de seu centenário.
Antropologia
“Sua tarefa como etnógrafo e observador foi também a de escrever e anotar todas as sus experiências por exigência do Ifan e de seu amigo Monod. A relação de Verger como a cultura negra aos poucos ultrapassa o interesse intelectual. Mais do que um observador participante, segue os passos de seu amigo e também etnógrafo Roger Bastide: envolve-se no candomblé, em que é aceito o iniciado, passando a exercer funções não mais como um olhar “para fora”, mas como um participar “por dentro”.
A observação é da fotógrafa e professora de antropologia visual e filosofia Rosane de Andrade no livro Fotografia e Antropologia-Olhares fora-dentro (Educa/Estação da Liberdade, 136 páginas). Focaliza Pierre Verger, diz a autora, como “exemplo da possibilidade de unir o artista, o etnógrafo e o religioso”.
Isto é, Verger é o cientista que “experimenta da arte, da religião e da magia”. É a síntese das proposta de Rosana de Andrade em seu ensaio, no qual discorre sobre a imagem fotografada (profecias de uma época e hoje não passam de reflexos em vidros sem ponto de referência) e seu autor como agente e regente sociocultural. E sob o ponto de vista de que “a antropologia visual não almeja, dentro dos novos padrões de pesquisa, apenas esclarecer o saber científico, mas humanisticamente compreender melhor o que outro tem a dizer para outros que queiram ver, ouvir e sentir”.