Este tem sido um ano movimentado para a pianista Karin Fernandes. Em maio, ela lançou, ao lado da violoncelista Adriana Holtz e da violinista Ana de Oliveira, um disco dedicado a trios escritos por compositores das três Américas. Em junho, outro CD, com a Seresta, de Camargo Guarnieri, gravada em concerto com a Sinfônica da USP. E, amanhã, 7, ela lança na Sala São Paulo, dentro da série Encontros Clássicos, mais um álbum, agora inteiramente dedicado a composições de Edson Zampronha. Nada mal para uma artista que, logo cedo na carreira, resolveu fazer da música dos séculos 20 e 21 sua atividade cotidiana.
“Talvez tenha sido um processo inconsciente”, diz a pianista. “O que eu sentia, desde cedo, era a sensação de que, ao tocar o mesmo repertório de sempre, não estava criando nada.” Talvez por conta disso, na final do Prêmio Eldorado, que ela venceu em 1999, o repertório já trazia obras do século 20. “Toquei Ravel e Debussy. E ali me dei conta de que poderia ir além, em direção a peças mais próximas de nosso tempo. A música, qualquer música, ganha vida quando é tocada. Mas estar próxima dos compositores, interpretando obras pela primeira vez, me dá um prazer especial.”
Em S’io Esca Vivo, com obras de Zampronha, brasileiro radicado hoje na Espanha, a estreia se dá com a peça Composição para Piano VII, escrita especialmente para a pianista. O disco vem sendo trabalhado e pensado desde 2009, quando ela interpretou o concerto para piano do compositor em Aracaju, com a Sinfônica de Sergipe regida pelo maestro Guilherme Mannis. Todas as obras do disco foram escritas entre 2005 e 2013, mas, apesar de próximas no que diz respeito à data de composição, oferecem, segundo a pianista, múltiplas facetas do compositor. “É bom perceber como, dentro da obra de um só autor, há vários mundos a explorar. Isso me interessa particularmente.”
É nesse sentido que ela conta ter interesse em, cada vez mais, preparar discos inteiramente dedicados a um compositor. Afinal, a diversidade é algo de que Karin diz não abrir mão – e isso significa estar aberta a diferentes correntes estéticas. “Decidir que, no cenário contemporâneo, existe apenas uma possibilidade seria tão redutor para mim, pessoalmente, quanto limitar meu repertório aos clássicos e românticos”, ela diz. Assim, em sua discografia, cabem tanto um álbum dedicado à música do compositor Edmundo Villani-Cortes, herdeiro da linhagem nacionalista, quanto uma investigação das propostas estéticas de Maurício Kagel em seu Trio nº2.
KARIN FERNANDES, EDSON ZAMPRONHA, ADRIANA HOLTZ – Sala São Paulo. Praça Júlio Prestes, 16, Campos Elísios, 3223-3966. Sáb., às 11 h. Grátis.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.