Pianista Chucho Valdés se apresenta em São Paulo

Jesus está chegando. Ele e mais cinco discípulos que o seguem pelo planeta desde 2009. É um gigante, uma criatura de uns 15 metros de altura e dedos ainda maiores que parecem querer abraçar o mundo. Quando não está em ação, espera por sua vez calmamente até que lhe chamem de novo. E, então, Jesus volta furioso, operando todos os milagres que seu piano é capaz.

Dionísio Jesus “Chucho Valdés” Rodrigues não é deste mundo. E não seria exagero dizer que a música cubana moderna divide-se em dois períodos, o AC (antes de Chucho) e o DC (depois do próprio). O que esse homem fez quando fundou o Irakere, em 1973, o grupo instrumental que teve em sua formação o trompetista Arturo Sandoval e o saxofonista Paquito D’Rivera, foi algo que colocou em definitivo os cubanos entre os melhores jazzistas do mundo.

Seu primeiro retorno ao Brasil desde 2012, quando foi uma das atrações do festival Mimo, em Olinda, será hoje, com um concerto único no Teatro Alfa. Chucho vem com a melhor formação que já teve a seu lado desde o auge do Irakere, jovens da nova música de Cuba que levam um nome suntuoso: Afro-Cuban Messengers, uma clara menção aos Jazz Messengers, os mensageiros do jazz do baterista Art Blakey.

Apesar de viver em Madri, na Espanha, há quatro anos, Chucho diz (e é melhor acreditar) que escolheu os melhores instrumentistas contemporâneos da Ilha de Fidel Castro. É bom estar atento ao que farão Reinaldo Melián Alvarez (trompete), Dreiser Durruthy Bombalé (batás e vocal), Rodney Barreto Illarza (bateria), Ángel Gastón Joya Perellada (contrabaixo) e Yaroldy Abreu Robles (percussão).

Universalidades

Foi com eles que, em 2013, o pianista lançou na Europa o impressionante Border Free (Sem Fronteiras), um álbum no qual a raiz afro-cubana conduz as criações para o flamenco espanhol, para a danza e a contradanza cubanas, para a guajira e para elementos da música da Nigéria. Afro Comanche, tema que ele deve mostrar hoje, é uma viagem que explica o cocar com o qual aparece na capa do disco. “Fiz esta música com sonoridades da cultura da tribo dos comanches, dos Estados Unidos. Não dá para classificar muito isso.” A viagem rendeu a ele e aos Afro-Cuban Messengers mais prêmios, além de sua coleção total de oito Grammys (cinco Awards e três Latinos).

Chucho é filho de Bebo Valdés, outro avatar do piano cubano, morto em 2013, responsável direto pelo apreço do filho pelas notas. “Eu nunca penso no que estou fazendo, simplesmente faço, desde que o meu pai me mostrou a música que ele tocava em seu trabalho, no Tropicana, antiga casa de shows (e por vezes de prostituição) de Havana. Da cultura iorubá à música clássica que depois eu aprenderia na escola, era necessário, naquele momento, saber tocar de tudo.”

A necessidade levou ao talento e Chucho, vivendo nas dificuldades impostas pelo embargo comercial ao qual a Ilha é submetida desde fevereiro de 1963, por iniciativa dos Estados Unidos, se tornou um operário da música. Culpa do embargo e, diga-se, de uma ideologia utópica em processo de desmonte e coisa e tal. Mas não adianta, Chucho não fala de política. “Meu negócio é a música, não os políticos”, disse, em uma abordagem a ele feita pelo jornal O Estado de S.Paulo em um hotel de San Juan, Porto Rico.

O fato é que tanta dificuldade o fez seguir primeiro os caminhos de todos os cubanos que desejam viver de música. Chucho levou suas partituras e as colocou nos pianos dos restaurantes de hotéis de Havana, até que saiu da curva dos medianos, atingiu o ponto dos excepcionais e começou a chamar a atenção do mundo.

Ao lado de brasileiros. A música brasileira fez parte de seu processo de descobrimento. “A primeira vez que ouvi uma música brasileira foi no mesmo Tropicana, onde meu pai trabalhava. Era algo de Ary Barroso. Foi com ele que aprendi a tocar a música de vocês.” Muitos anos depois, em 1996, o pianista gravaria com um brasileiro o disco que consideraria para sempre seu melhor dentre os vários projetos que tem registrados em duo com outros músicos: Ivan Lins, Chucho Valdés e Irakere – Ao Vivo em Cuba.

Quando lembra desta gravação, Chucho dá um suspiro. “Ah, este disco. Isso foi demais.” Se não pensa em refazer a parceria, ao menos em reencontrar Ivan no Brasil? Ele manda o recado: “Olha, se ele estiver por São Paulo estes dias, gostaria muito de vê-lo. Gravamos aquele disco com um ensaio apenas e se tornou uma pérola”.

A reportagem procurou por Ivan, mas o brasileiro não respondeu até o fechamento desta edição. Se ler isso e passar nesta quinta-feira, 11, pelo Teatro Alfa, Chucho o chama para o palco. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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