Piada sem graça

Episódios de estréia podemnão ser os melhores para avaliar um programa, já que muitas vezes funcionam como um teste, seguidos das correções que forem julgadas necessárias. Mas, bem ou mal, eles são os primeiros e servem para apresentar os personagens e as situações que irão se repetir enquanto ele estiver no ar. Foi o exemplo do malogrado Toma lá, dá cá, que a Globo passou a exibir às 22h35 das terças-feiras.

Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa criaram uma ?sitcom? baseada em um novo modelo de família brasileira, com pais separados e filhos de diferentes casamentos criados juntos. Caso de Mário Jorge, vivido por Falabella, que vive com Celinha, de Adriana Esteves. Ele é ex-marido de Rita, de Marisa Orth, agora casada com Arnaldo, de Diogo Vilela, por acaso ex-marido da mesma Celinha. Para apimentar mais a situação, eles vivem no mesmo andar de um edifício.

Completam o elenco, Arlete Salles, como Copélia, mãe de Celinha, e Fernanda Souza, Daniel Torres e George Sauma, no papel de Isadora, Adônis e Tatalo, filhos dos casais. Alessandra Maestrini representa Boneza, empregada doméstica que trabalha nas duas casas.

É nessa ?comédia de confinamento?, como a classificou Falabella, que surgem as situações que conduzem a narrativa. Sem sucesso na estréia. O dia em que a terra tremeu girou em torno das brigas entre pais e filhos dos dois casamentos que terminam misturando as duas famílias e seus problemas cotidianos. Pela necessidade de apresentar os personagens, o episódio foi mais uma coleção de esquetes que uma história encadeada que converge para um desfecho cômico.

Cada um dos atores deu seu show particular, sem grande interação com o resto do elenco, exceção de Adriana Esteves, a personagem mais contida do seriado. E, por isso mesmo, a mais bem-sucedida. Toda a comédia precisa de ?escadas?, ou atores que auxiliam os humoristas a desenvolver a piada. A atriz foi a única a servir seus colegas. Mesmo Otávio Augusto, estrela convidada para a estréia, fez seu ?tour de force? como um deputado nordestino.

Assim, Toma lá, dá cá dependeu mais de talentos individuais do que de um conjunto de ações. O roteiro e suas piadas tornaram-se supérfluos. As poucas risadas foram arrancadas com a caracterização dos personagens e o humor francamente físico e coreográfico de alguns artistas. Arlete Salles criou uma avó bêbada e farrista. Diogo Vilela, um marido débil. Miguel Falabella, um pai omisso e ruidoso. No papel de uma empregada do Sul do Brasil, Alessandra Maestrini procurou fugir de outros modelos de domésticas, insolentes e desbocadas. Não conseguiu. Marisa Orth e os personagens juvenis são de uma completa superficialidade.

Esse é o dilema de Toma lá, dá cá. É, até o momento, um passo atrás no humor. Enquanto os personagens de Sob nova direção e de A Diarista, que acabam de sair do ar, buscavam ser mais do que estereótipos, os tipos do novo programa seguem um comportamento linear. E, além disso, os extintos programas tinham roteiros muitas vezes com situações originais e inteligentes. Nem as alterações da estrutura familiar fazem esse novo humorístico deixar de ser tão antigo quanto a Família Trappo. O que deveria ser um sitcom ou comédia de situação releva a situação da comédia. Muito do humor brasileiro permanece devedor de Oscarito e de outros gênios da chanchada e do teatro de revista. 

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