Quem não se lembra de seu Oscar por oito minutos de presença no filme Shakespeare Apaixonado, de 1998? Oito minutos que foram suficientes para Dame Judi Dench reinar nas telas. Aos 79 anos, a atriz britânica de elegância incomparável já viveu Shakespeare nos palcos, conquistou a TV e mais tarde o cinema, recebendo mais indicações para o Oscar após os 60 anos do que qualquer outro ator da mesma idade.
Em seu novo filme, Philomena, que estreia nesta sexta-feira, 14, Dench vive uma mulher que quando adolescente foi forçada por freiras a abandonar o filho para adoção no orfanato onde trabalhava. 50 anos depois, ela vai em busca dele com a ajuda de um jornalista interessado em vender a história. Philomena descobre então algumas verdades sobre o filho que nunca conheceu de verdade. O drama é baseado em uma história verídica. O filme começa lento, mas aos poucos, cativa a audiência. A culpa é de Dench, que tem uma performance sutil e emocionante a cada olhar, suspiro e lágrima.
Durante entrevista no 57.º Festival de Cinema de Londres, Dame Judi Dench ressaltou a preocupação de interpretar uma personagem baseada em uma história real. “Eu senti que só seria certo se contássemos a história da maneira como aconteceu e foi escrita. Esse é o drama pessoal de alguém e você não quer dramatizar demais, mas ser fiel a ela”, confessou a atriz, aparentando excelente saúde. “Philomena é uma mulher notável e minha preocupação era sempre me manter verdadeira à vivência dela”, afirmou.
Judi Dench tem lutado contra problemas de saúde nos últimos anos, incluindo uma cirurgia no joelho no início de 2013, e problemas de visão que tornam difícil a leitura de roteiros atualmente. O ator britânico Steve Coogan, coautor e coprodutor do filme, leu pessoalmente a história para convencer a atriz. “Eu soube que o Steve queria ler o roteiro para mim e imediatamente aceitei. Quando você ouve essa história, é impossível não aceitar”, informou também. Coogan interpreta o jornalista Martin Sixsmith, que ajudou Philomena a encontrar seu filho na vida real. A química entre os dois é notável.
“Steve faz comédia e eu faço atuação séria. Mas ele está magnífico nesse drama. Então, eu acho que ele deveria continuar na comédia”, enfatizou ela, arrancando risadas dos jornalistas. O ator britânico é mais conhecido por papéis humorísticos, como o do radialista atrapalhado Alan Partidge.
Dench, que encontrou o sucesso mais tarde em sua carreira – “na América, ninguém sabia dos vários anos de carreira que tive, antes do filme Sua Majestade, Mrs. Brown – explicou que atuação vem também das experiências pessoais de cada um.
“Qualquer papel, precisa ser baseado em sua vivência, primeiramente. Cada experiência pessoal que tenho, eu uso no meu trabalho de atriz”, explicou. “Eu tenho uma filha e um neto e, com certeza, posso me identificar com essa história. Cada emoção que ela passou”, recordou ela, acrescentando ainda: “Claro que há sentimentos que não estão no seu repertório, como a história de Macbeth, de Shakespeare. Como você pode buscar em si algo como o assassinato do marido da sua prima?”, comentou, brincando. “Mas tenho que lembrar que essa não é a minha história. Tinha que me conectar com a Philomena Lee de verdade. Mas, no fim, foi possível fazer a interpretação mais verdadeira possível”, refletiu ainda Judi Dench.
Perdas
Philomena aborda o poder do perdão e a fé que tem a personagem. “Gostaria de pensar que eu me comportaria como ela, mas não conseguiria perdoar. A Philomena é uma das pessoas mais distintas que já conheci. Ela perde o seu filho, mas ganha outra coisa, como outro filho. Ela tem tanta fé e força, como antes da perda, o que não é fácil”, garantiu. “Eu a conheci antes de começar a filmar e tive uma visão geral de como ela era. É muito engraçada e me fez rir muito. Nós nos demos muito bem, temos um senso de humor parecido”, reafirmou. “Provavelmente, o encontro mais difícil que tive com ela, foi quando ela veio me visitar no trailer antes das filmagens. Ela me viu caracterizada como ela e achou bem esquisito. Claro, é estranho ver outra pessoa vestida como você. Aquele momento foi desencorajador”, adiantou ainda. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.