Dizem que um festival só começa de verdade quando o público se apaixona por um filme. Nesse caso, Veneza-2013 começou ontem, 1, para valer com a consagração de Philomena, de Stephen Frears, numa grande interpretação de Dame Judi Dench. A história – baseada em fatos reais, ainda que inverossímil – é mesmo daquelas que se prestam a despertar simpatia e emoção. Fala de uma mãe que resolve procurar seu filho depois de ter sido separada dele ainda criança. Faz rir e faz chorar.
Baseado no livro The Lost Child of Philomena Lee, conta a história da mãe solteira que, acolhida num convento da Irlanda no início dos anos 1950, é separada da criança, supostamente dada em adoção por dinheiro e nunca mais a vê. Até que, cinquenta anos passados, resolve seguir os traços do filho perdido, agora com a ajuda de um jornalista, Martin Sixsmith (Steve Coogan), autor do livro.
Na investigação, aparecem muitas dificuldades, resistências, surpresas e, claro, emoções. Mas não se trata de obra lacrimogênea, daquelas chantagistas, cheias de truques e golpes baixos para arrancar lágrimas. Frears é um mestre dentro daquilo que se propõe. Constrói uma obra sólida, de roteiro lapidado, vivido de modo contido tanto por Koogan quanto por Dench. Very british, nesse sentido. Em especial pelo uso do senso de humor, quando menos se espera por ele. Aliás, na entrevista Frears comentou esse ponto e o fez sem rodeios: “A história é tão triste que tínhamos de usar um pouco de humor para aliviar o público”, disse.
Judi Dench disse que tomou todo o cuidado possível ao compor a personagem. “Falei com a verdadeira Philomena, é uma senhora de 84 anos, uma mulher maravilhosa. Minha grande preocupação era entender aquela história e aquela pessoa.”
Ao mesmo tempo, havia o outro lado. A Igreja fica muito mal na fita, pois, além da notória falta de piedade com as mães solteiras, é acusada abertamente de tráfico de bebês. Assim como Anthony, filho de Philomena, outros teriam sido adotados a troco de dinheiro. Em bom português, eram vendidos a casais em busca de adoção. Isso em 1952. “Não quis fazer um filme acusatório, mas espero que o papa Francisco o veja”, disse Frears.
Com esses elementos, o diretor constrói drama de boa envergadura. Os personagens são reais e o destino de Anthony revela-se absolutamente insólito. Enfim, é o triunfo no Lido do cinema tradicional, de boa carpintaria, com uma história humana, linear, muito bem contada e interpretada. Tradicional, mas sem qualquer ranço acadêmico. Falta invenção, é verdade, mas quem disse que todo mundo precisa dela? Até agora, Philomena disparou na preferência do público e também da crítica. Por enquanto é favorito, mas há muita água por rolar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.