A exposição do artista plástico alemão Peter Klasen, residente na França desde 1959, está sendo apresentada pela primeira vez no Brasil e é a primeira mostra de fotografias do artista. Já exibida na Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro, Curitiba é a segunda cidade brasileira a receber a exposição, antes dela retornar a Paris. A mostra, que abriu ontem, apresenta 42 fotografias feitas por Klasen entre 1970 e 2005, em formato médio de 100cm x 80cm.
Com obras nos principais museus internacionais de Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Portugal, Japão, entre outros, Klasen é apontado como o fundador do movimento chamado de Figuração Narrativa. Apesar de ser essencialmente um pintor, o uso da fotografia como suporte de sua pesquisa pictórica lhe valeu, no ano passado, uma grande retrospectiva na Maison Européenne de la Photographie (MEP), de Paris, considerada um ?templo? da fotografia na França.
Por iniciativa do diretor da MEP, Jean-Luc Monterosso, foi organizada a mostra ?Nowhere Anywhere Photographies 1970-2005? que, com o apoio da Maison Européenne de la Photographie e a parceria com o Consulado Geral da França no Rio de Janeiro, agora é apresentada no Brasil. Em 1980, Monterosso criou na França o concorrido Mês da Fotografia, que abrange uma série de eventos e manifestações, e atualmente se estende por outras capitais européias.
O artista e a obra
Nascido em 1935 na cidade alemã de Lübeck, Peter Klasen mudou-se para Paris aos 24 anos, após ganhar uma bolsa de estudos em artes plásticas. De acordo com o crítico francês Bernard Vasseur, desde o início dos anos 60, Klasen desenvolve, ?de forma obsessiva e crítica, seu vocabulário pictórico, através da apropriação da fotografia sob todas as suas formas e derivados (cartazes, fotos de imprensa e revistas de grande tiragem)?.
O trabalho do artista baseia-se no olhar sobre o mundo contemporâneo através das estruturas construídas pelo homem, e a relação que o liga a esses objetos ou a esses lugares. Portanto, a fotografia serve-lhe de matéria-prima, pela qual realiza criticamente o elo entre a obra e a realidade que vive e vê. ?A fotografia permite-me ao mesmo tempo reagir ao ambiente urbano e alimentar-me?, escreveu Klasen.
O artista disse que ?os lugares à margem das nossas cidades, os subterrâneos, os ferros-velhos, os vasos sanitários, as estações de trem e ônibus, as faces escondidas do nosso mundo industrial, exercem um estranho fascínio? sobre ele. ?Adoro a contrariedade?, afirmou. ?Preciso dessa resistência a uma realidade hostil?.
Prestigiado ao longo de sua trajetória por artistas como o italiano Lucio Fontana e o catalão Antoni Tàpies, Klasen fotografa a ambivalência da vida contemporânea, ?em dois aspectos ao mesmo tempo inseparáveis e contrários: o fascínio e a sedução que ela exerce através da sua eficácia e dos perigos que ela encobre?, como ressalta o crítico francês Bernard Vasseur. Para o crítico, Klasen é ?verdadeiramente o pintor da alienação contemporânea?.
No texto do livro sobre o artista, lançado em Paris por ocasião da exposição Nowhere anywhere (Nenhum lugar qualquer lugar), o psicanalista Daniel Sibony chamou de ?maquinações eróticas? a série de fotografias feitas por Peter Klasen que registram vagões, eixos, caminhões, canos e outros contêineres. Daniel Sibony observa que o artista se coloca como ?voyeur? para surpreender nessas máquinas ?um evento do corpo, pulsional, erótico, que nos diz respeito?.
Dessa maneira, para o psicanalista, Klasen ?terá atingido o universal pelo caminho do mais singular?, em que, nesses objetos pesadamente industrializados, ele ?capta os vestígios de uma busca de vida: onde se percebe, ao mesmo tempo, uma ameaça contra a vida e uma possibilidade de abertura, uma promessa?.
Para o crítico Bernard Vasseur, a obra de Klasen ?não se apega jamais à simples constatação, ao simples testemunho dos fatos?. ?Ela reúne os sintomas, condensa as angústias, cristaliza as inquietudes, provocando a reflexão e libertando o imaginário?.
Serviço:
Peter Klasen Nowhere Anywhere. Fhotografies 1970 2005. Visitação Pública: 13/5 até julho. Parcerias: Consulado Geral da França, Maison Européenne de la Fhotographie (MEP), Fundação Casa França-Brasil. Apoios: Governo do Paraná, Aliança Francesa, Goethe Institut, Petrobras, Clearchannel. Onde: Torre da Fotografia, no Museu Oscar Niemeyer. Telefone: (41) 3350-4400. Horário: de terça a domingo, das 10h às 18h.