Os quatro encenam dois casais envolvidos em relacionamentos com questionamentos caracteristicamente pós-modernos, resultando (resguardando as devidas proporções) numa espécie de tragédia grega bem atual. A história começa com uma belíssima cena de amor à primeira vista entre Alice, ex-striper e Dan, então jornalista e entediante escritor de obituários. Portman teve aulas particulares para aprender a dançar como uma profissional e suas cenas são as melhores do filme.
A seguir observamos Dan, que escreveu um livro baseado na história de Alice, envolver-se com a fotógrafa Anna, que por sua vez casa-se com Larry. Na tela sucedem-se sentimentos ambíguos drama, paixão, desejo, ódio, traição entre os vértices desse polígono que não nos assegura o suficiente para o classificarmos como amoroso.
A tônica da trama está, acima do amor, nos jogos de sedução que reafirmam a frase do cartaz do filme que diz "quem acredita em amor à primeira vista, nunca pára de procurar". Interessantes nos relacionamentos são os começos a continuidade é sempre o risco que nem sempre estamos dispostos a enfrentar. Como afirma Larry, no começo de seu namoro com Anna: "Estamos no auge. Ela ri de todos os meus defeitos e de todas as piadas sem graça que faço". Na vida real, a história começa mesmo é quando essa fase termina.
Os quatro se relacionam de forma complicada, os sentimentos são complexos, confusos. Apesar do suposto comprometimento em serem honestos, os personagens parecem enganar uns aos outros e equivocar-se quanto ao que sentem, querem e desejam. Dan conta a verdade a Alice e Anna à Larry, decidindo finalmente ficarem juntos. No entanto, essa é só a primeira das reviravoltas.
A personagem de Jude Law conta com alguns problemas de construção e a química entre ele e Julia Roberts não é a esperada. Porém, a pouca densidade desses é compensada com maestria por Natalie Portman e Clive Owen (ambos conquistaram o Globo de Ouro de melhor atriz e ator coadjuvante pelo filme). O filme conta com diálogos densos e belíssimos atenção especial para o travado entre Jude Law e Clive Owen no consultório.
Mais do que diversos questionamentos, o filme desperta estranhamento. Somos todos assim atualmente ou esta é uma realidade distante de nós? Ou eles são tão parecidos conosco que até nos constrange assumir? Por isso o "desconcertante". Com o perdão do trocadilho, a inquietação e insatisfação, o não saber como agir, a insegurança, o medo e o amor muitas vezes desmedido, muitas vezes anêmico, que vemos diante de nós nesse filme são um retrato do que somos, se olhados perto demais.
Priscilla Fogiato é jornalista.