Entre os fãs de Star Trek, só um capitão concorre em popularidade com o original, Kirk (William Shatner). Seu nome é Jean-Luc Picard. Depois de 26 anos de ausência da televisão e 18 do cinema, ele está de volta em Star Trek: Picard, que entra no ar no Brasil no serviço Amazon Prime Vídeo.

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Os produtores Alex Kurtzman, Heather Kadin, Michael Chabon e Akiva Goldsman tiveram de suar um bocado para convencer Patrick Stewart a retornar a um de seus icônicos papéis – o outro sendo o Professor X da saga cinematográfica X-Men. Depois de uma reunião de uns 40 minutos, o ator educadamente disse não. Mas no dia seguinte pediu que eles colocassem suas ideias no papel.

O resultado foram 35 páginas. E aí ele disse sim. “Eu acho que ele percebeu com Logan que tinha como fazer o mesmo personagem de um jeito novo”, contou Kurtzman em entrevista em Los Angeles.

“Fora isso, o mundo simplesmente enlouqueceu na mesma época. E Star Trek sempre refletiu o universo em que vivemos. Ter a oportunidade de dizer algo sobre isso foi um atrativo a mais para Patrick”, completou Kurtzman.

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Gene Roddenberry criou Star Trek em 1966, época dos movimentos pelos direitos civis nos Estados Unidos e dos protestos contra a Guerra do Vietnã.
Além de contar com uma personagem negra, Uhura (Nichelle Nichols), e um asiático, Sulu (George Takei), a série pregava a diplomacia e o diálogo no lugar dos conflitos.

Mas os tempos são outros, e o mundo mudou um bocado, inclusive no panorama televisivo, que exige mais complexidade e nuance.

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“Quando começamos a conversar sobre a série, falamos muito de imigração e da crise de refugiados, que era o que estava acontecendo na época”, disse a produtora executiva Heather Kadin. “Mas depois muito mais coisas aconteceram, e encontramos Picard desafiando o governo, afirmando que existe outra maneira de fazer as coisas. Não estamos, porém, tentando martelar nada na cabeça de ninguém nem desejamos ser políticos”, afirmou
Picard está aposentado e cuidando do vinhedo da família na França – uma rara oportunidade de ver a Terra no mundo de Star Trek. Ele se consome pela culpa dos eventos de décadas anteriores, que apareceram nos filmes da saga: a morte do androide Data (Brent Spiner) e a destruição de Romulus, que resultou em sua aposentadoria voluntária.

Mas tudo muda quando ele conhece a jovem Dahj (Isa Briones), que vem pedir sua ajuda depois de ver o namorado ser morto e descobrir habilidades que desconhecia.

Picard, afastado da Tropa Estelar e da Federação, está disposto a enfrentar o sistema para desvendar fatos obscuros envolvendo seres sintéticos, com a ajuda de novos tripulantes, como o comandante Rios (Santiago Cabrera) e a cientista Agnes Jurati (Alison Pill). Mas gente conhecida também dá as caras, como Data, Raffi (Michelle Hurd), Troi (Marina Sirtis) e até Seven (Jeri Ryan), importada de Voyager.

O tom adotado é muito diferente das outras séries Star Trek inclusive Star Trek: Discovery, produzida pelas mesmas pessoas de Picard.
“Queríamos que o espectador reconhecesse ser Star Trek, mas que tivesse sua identidade. Que falasse de coisas diferentes, tivesse um visual diferente e parecesse diferente”, disse Kurtzman. “Para mim, Picard é mais um drama adulto. As coisas se desenvolvem a seu tempo”, afirmou.

A série também é mais sombria para refletir o mundo de hoje, sem cair na distopia. “Esse era o desafio: ser um espelho do que vemos à nossa volta e manter a visão otimista de Roddenberry”, disse Kurtzman.

Alegorias

A solução era casar as duas coisas no personagem principal. “Picard sempre foi um facho de luz na escuridão”, afirmou o produtor executivo. “Não nos furtamos de contar as histórias alegóricas que falam dos assuntos que nos preocupam, mas aí Picard está lá para nos lembrar do que é certo e do que é importante.”

Para Kurtzman, o personagem sempre se guiou pelo bem maior, sempre manteve seu compasso moral. “Ele é o tipo de líder de que precisamos desesperadamente agora. Sua volta é tão necessária porque temos de ser lembrados de como é importante ter líderes que pensam em todos profundamente e cuidadosamente e levam em consideração as repercussões para esta geração e também as futuras. Que pesam o certo e o errado, que não são reacionários, que não tuítam às 2 da manhã, mas que pensam em suas como suas ações enquanto líderes impactam nações de pessoas. Picard sempre foi esse cara”, disse.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.