Personagem de minissérie leva atriz para o Século XIX

Desde que recebeu o convite para integrar o elenco de “A Casa das Sete Mulheres”, onde interpreta Rosário, Mariana Ximenes mergulhou de cabeça no Século XIX. Além dos “workshops” e aulas promovidos pela Globo, em que aprendeu tricô, bordado, História, equitação e chimarrita -dança típica gaúcha -, a atriz fez questão de empreender suas próprias pesquisas. Algo, aliás, que sempre faz parte de seu processo de criação. “Sou observadora e muito curiosa com o comportamento humano. Sempre pesquiso muito para a composição de meus papéis”, justifica a atriz, em seu segundo trabalho de época. Em 2001, foi o Século XVII que ela esmiuçou em busca dos traços de Izabel, sua personagem em “A Padroeira”, de Walcyr Carrasco.

Aos 22 anos, Mariana fala com impressionante profundidade de seu trabalho, onde procura preencher com elementos próprios os textos dos autores que interpreta. Com Rosário, a inspiração veio principalmente de filmes, como “As Brumas de Avalon”, de Uli Edel, sugestão do diretor Jayme Monjardim a todo o elenco, “Amor, Sublime Amor”, de Robert Wise e Jerome Robins, “Ligações Perigosas”, de Stephen Friers, e “O Leopardo”, de Luchino Visconti. Nos três últimos, Mariana buscou o sentimento do “amor imortal” de Rosário por Estevão, personagem de Thiago Fragoso. “É um amor diferente dos de hoje. Parece que a dimensão era maior”, compara a atriz, que se diz tão romântica quanto a personagem.

Em sua primeira minissérie, Mariana comemora o rumo de sua carreira, iniciada em 97 no SBT, na novela “Fascinação”, de Walcyr Carrasco. “Sei que é um marco profissional, porque é minha primeira minissérie e o Jayme é um profissional maravilhoso”, avalia a tranqüila atriz, de gestos delicados. Quando está longe da tevê, ela investe no cinema. No premiado “O Invasor”, de Beto Brant, Mariana interpretou uma drogada do “underground” paulistano – oportunidade para novas descobertas em sua cidade natal. “Eu já conhecia São Paulo, mas precisava conhecer de novo, pela ótica da personagem”, explica Mariana, que vive uma ninfomaníaca em “O Homem do Ano”, de José Henrique Fonseca, com estréia prevista para este ano.

P

– O traço mais marcante da Rosário é a progressiva perda de lucidez, depois da morte de Estevão. Como você trabalha isso?

R

– Na verdade, há uma contradição entre o fato de ela ficar louca ou não. Para ela, os encontros com o Estevão depois de morto são uma realidade completamente crível. Aqueles encontros são reais, embora ninguém veja o Estevão. Todo mundo acha que ela está pirando, e ela vai acabar sendo mandada para um convento. Mas, na minha composição, eu acredito que ela realmente se encontra com ele. Ela vê e sente absolutamente tudo. É um amor imortal mesmo.

P

– Para você, é uma situação crível?

R

– Acho que cada um tem a sua crença. Sou uma pessoa que tem muita fé, mas não sigo nenhuma religião, por exemplo. Há religiões que defendem a reencarnação. Particularmente, acredito que deve existir alguma outra coisa, em algum lugar, que vá além do que a gente vive aqui. Mas a crença da Rosário é, acima de tudo, no amor que ela sente, que supera qualquer obstáculo.

P

– Em que você se inspirou para compor este sentimento ?

R

– A primeira coisa que fiz foi ler o romance “A Casa das Sete Mulheres”, da Letícia Wierzchowski, em que já há um traço muito forte da personagem. Depois, nos filmes que procurei ver, tentei criar uma mescla daquelas personagens femininas, que também viveram amores desta dimensão maior, que eu chamo de imortal. Já durante as gravações, o que tem me ajudado muito é a música. O Jayme tem o costume de colocar as músicas tocando durante as gravações das cenas e eu também gosto de me inspirar com uma música para cada tipo de cena: uma coisa mais feliz, outra mais forte, outra mais frágil, ou mais romântica. Tanto que sempre levo o meu “CD-man” para as gravações.

P

– O fato de encarnar a segunda personagem de época, em trabalhos seguidos, facilitou a composição?

R

– Adoro fazer trabalhos de época, porque adoro pesquisar, conhecer mais de outras culturas, de outros tempos. Acho um privilégio poder participar novamente de um trabalho de época. E é uma viagem em que você tem de se deixar embarcar, ser levado pelo espírito daquele tempo. Mas é sempre uma composição muito específica. “A Padroeira” se passava no século XVII, já a minissérie gira em torno de 1835, e no Sul do Brasil. Então, é um pouquinho diferente. O que dá para aproveitar é uma postura, uma forma de colocar o corpo, a voz, mas a concordância verbal e o sotaque, por exemplo, são completamente diferentes.

P

– Houve alguma preocupação especial com o sotaque da Rosário?

R

– Não, porque esta foi uma das primeiras coisas que o Jayme disse para a gente. Ele não queria um sotaque gaúcho, mas queria um modo de falar homogêneo para todo o elenco. Então, o trabalho que nós tivemos foi neutralizar um pouco os regionalismos no modo de falar de cada um. Quanto à forma gaúcha de falar, nós tivemos uma professora de prosódia que tentou passar para a gente a musicalidade do gaúcho. Mas não houve a preocupação de se imitar um sotaque, de se buscar uma forma específica de falar. O que ela fez foi explicar para a gente como o próprio ambiente e o próprio comportamento do povo gaúcho determinam a forma como ele fala. Ela mostrou, por exemplo, que o horizonte do Sul, a falta de inclinações, que a gente pôde ver lá, e o ritmo do cavalo, que a gente pôde experimentar, já propiciam a musicalidade do gaúcho. A partir da observação destes elementos, a gente foi tentando encontrar esta musicalidade, e não “o sotaque”.

P

– Esta é sua primeira minissérie. Como você avalia este momento da sua carreira?

R

– Sem dúvida alguma, é um trabalho muito mágico. Existe uma calma maior, um tempo maior para se fazer tudo. O tempo de preparação também foi muito importante, e eu aprendi o sentido de conhecer as pessoas do elenco, os autores, a equipe, e de curtir esta convivência. E é claro que é um marco na minha carreira, não só por ser a primeira minissérie, mas também por ser dirigida pelo Jayme, que é um diretor maravilhoso. É muito bom ver o entusiasmo dele. A magia que ele põe no trabalho contagia as pessoas e as coisas acontecem. O que eu sei é que estou muito encantada com este trabalho. Com relação à minha carreira, não gosto de criar muita expectativa com o que ainda está por vir. Prefiro achar que sempre vão surgir personagens interessantes, diferentes, que me estimulem a pesquisar. Sou muito curiosa com o comportamento do ser humano. Então, o que vier de comportamentos humanos para serem analisados, interpretados e representados por mim, eu acho que vem bem.

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