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Performances saem de espaço específico e ocupam o Pavilhão

Prática cultural que tem seção própria na SP-Arte, a performance surge nesta edição em novo formato: não mais se restringe a um espaço específico, mas se espalha pelo Pavilhão da Bienal, em horários específicos e distintos da programação. Serão seis produções de galerias brasileiras, todas à venda para colecionadores e representantes de instituições culturais.

Não há recorte específico que integre os trabalhos selecionados, de acordo com Marcos Gallon, que neste ano assume a curadoria do núcleo no evento. “É uma pluralidade. A ideia é tentar inserir essa linguagem no campo comercial da arte.”

Uma das performances apresentadas é Ponto e Vírgula, da artista carioca Maria Noujaim e interpretada por Julia Anadam. O título do trabalho tem a ver com os movimentos da apresentação. “A pontuação, como artifício do discurso, tem rítmica”, diz a autora. Maria se sente estimulada pela perspectiva de venda de seu trabalho, que atualmente pertence à galeria paulistana Jaqueline Martins. “É uma coisa nova, que traz uma certa vanguarda do mercado de arte.”

O artista Jaime Lauriano também se apresenta na SP-Arte. Árvore Nacional é sua produção inédita, e revela estruturas de poder e divisionismo contidas em símbolos, como a bandeira e o hino nacionais. “São elementos característicos de um nacionalismo que tenta matar e exercer biopolítica em cima de corpos marginalizados”, afirma. Sua performance vai desconstruir – literalmente – a bandeira nacional, em um jardim com mudas de pau-brasil, declarada como símbolo em lei aprovada durante a ditadura militar. “Foi uma ‘forçação de barra’ para construção de uma identidade nacional”, comenta o artista, para quem o próprio nome do País carrega um elemento de uma violência, por ter sido inspirado em uma planta que, no período da colonização, era extraída pelos índios de maneira forçada.

Além das performances de Maria Noujaim e Jaime Lauriano, outras quatro poderão ser vistas na SP-Arte. A do artista Cristiano Lenhardt, pertencente à galeria Fortes D’Aloia & Gabriel, cria roupas e objetos cênicos com recortes de jornais, em meio à entoação de prosas poéticas. Já Clotho, cujo autor é Cadu, da Galeria Vermelho, traz tricoteiras profissionais para a criação de um trabalho que deixará vestígios pelos corredores do Pavilhão. Jorge Soledar expõe sua criação A Morte do Boneco, da Galeria Porta Vilaseca, encenando a desumanização da sociedade moderna. Por último, o artista avaf (cuja grafia se dá, de fato, com a inicial minúscula), da Galeria Casa Triângulo, dança junto a um tapete, na companhia de uma trilha sonora produzida ao vivo.

A organização da SP-Arte vai adquirir uma das produções e doá-la à Pinacoteca do Estado de São Paulo. A escolha caberá à equipe curatorial do museu. Fernanda Feitosa, criadora e diretora do festival, vê o ato como um incentivo ao setor. “É uma linguagem que vem ganhando cada vez mais popularidade e, para que haja maior compreensão do público e estímulo aos artistas, é preciso que ela ganhe espaço dentro das instituições”, afirma.

O curador Marcos Gallon não pretende, com sua seleção, criar qualquer confronto com o espectador mais conservador, mas também levou em consideração o caráter polêmico inerente a qualquer performance. “Toda performance, até hoje, sempre tem um caráter político, subversivo”, diz. “Todas as ações guardam esse caráter de ativação do espaço público e de discussão sobre espaço privado. A gente também não vai tirar essa potência de questionamento.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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