Ela está lá o tempo todo, mesmo antes do nascimento. Os especialistas dizem que a percussão das batidas regulares de um coração de mãe é o primeiro contato musical do ser humano. E de que foi ela a primeira produção sonora organizada, milhares de anos antes de se falar em notas, acordes, harmonias. História à parte, a Bahia tem um festival de três dias para sobrevoar as várias formas de música percussiva. O PercPan, em sua 20.ª edição, será apresentado neste final de semana, de sexta a domingo, no Terreiro de Jesus, Centro Histórico de Salvador. É uma espécie de volta às origens. Antes que passasse a ser realizado em outras cidades, acontecia apenas na capital baiana.
A programação tem curadoria de Alê Siqueira, Letieres Leite e José Miguel Wisnik, o que indica critério. A primeira noite será da Percussão – Voz, Corpo e Palavra. E os shows serão da baiana Banda de Boca, do grupo paulistano Barbatuques, dos cubanos do Vocal Sampling e do rapper Mano Brown.
A Banda de Boca e o Barbatuques têm linguagens parecidas. É o uso do corpo em seu limite na produção de sons, ritmo e dança. E Mano Brown, líder dos Racionais, é a palavra como conceito rítmico na força do rap.
Os cubanos do Vocal Sampling trabalham a música vocal percussiva de outra forma. Criam tudo, harmonia, melodia e ritmo, reproduzindo todos os instrumentos. São envolventes por fazerem isso com a música caribenha, e se trata do único grupo cubano nesta frente, desde o final dos anos 1980.
Rene Baños Pascual fala pelo conjunto. “Fazer percussão com vozes é um dos elementos mais importantes para conseguirmos a equivalência da sonoridade de certos grupos instrumentais. A combinação de vozes que fazem sons de altura determinada e sons de altura indeterminada contribui para criarmos um efeito.” O grupo, que já esteve em um Festival de Inverno de Campos do Jordão e em uma edição do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, tem admiração pela música brasileira. Com quem gravariam se pudessem? “Djavan, Lenine, Carlinhos Brown, Gal Costa, Ivan Lins.”
O sábado irá priorizar a percussão feminina e um dos destaques será o grupo da Galícia, o Leilía. Será uma rara oportunidade de ver a cultura secular resgatada por seis mulheres pandereiteiras da região ao norte da Espanha, em que a língua é muito aproximada do português. “É uma cultura de mais de 100 anos. Não há documentos gravados, por isso nos preocupamos em trabalhar essas sonoridades”, diz Ana Rodríguez, integrante do grupo.