Entrevista – Walcyr Carrasco, autor
De onde veio a inspiração para a história de A Dona do Pedaço e para o conflito entre as duas famílias rivais? Remete a Shakespeare e a novelas como O Rei do Gado…
Remete a Shakespeare, sim. Não esqueça que ganhei um Jabuti pela tradução e adaptação de Romeu e Julieta. Então, pensei nesse amor shakespeariano, que me move muito, sempre! A paixão acima da guerra entre famílias.
Esse conflito entre as duas famílias vem de longa data. Em algum momento, o público vai saber o que motivou o início dessa briga?
Eu vou escrevendo de acordo com minha intuição, portanto não sei no momento adiantar o que acontecerá ou não. Mas basicamente é um conflito tradicional e comum entre famílias poderosas de algumas regiões do Brasil. Assistindo aos primeiros capítulos, o público verá que o conflito é acentuado pela morte de novos membros de ambas as famílias, no contexto da novela.
Com que tipo de negócios essas duas famílias trabalham?
As duas famílias são de justiceiros profissionais. Ou seja, pessoas que matam por encomenda, e recebem por isso. E em nome da hegemonia local, criam as novas gerações para assumirem o trabalho dos mais velhos. É no meio desse conflito que nasce a história de amor com elementos de Romeu e Julieta.
As personagens femininas sempre foram peças importantes em sua obra, e, em A Dona do Pedaço, elas parecem ter um protagonismo ainda maior. Foi algo pensado ou esse protagonismo das mulheres foi nascendo naturalmente a partir da sinopse?
Eu não teorizo muito sobre meu trabalho. O protagonismo feminino sempre foi forte, sim, em tudo que escrevo, e as personagens de mulheres fortes surgiram na própria criação da trama.
Fale sobre sua protagonista, Maria da Paz.
Ela é a mulher que tem garra, fibra, começa a vender pedaços de bolo na rua e constrói uma fábrica e uma rede de confeitarias. Ao mesmo tempo, é frágil afetivamente e apaixonada. Ela diz muito do Brasil de hoje, onde fortunas surgem de repente, e também desaparecem mais depressa ainda.
O público vai precisar esperar muito para ver o reencontro de Maria e Amadeu?
Em minhas novelas, o público nunca tem que esperar muito, eu gosto que tudo aconteça rapidamente. O reencontro de Maria da Paz e Amadeu é muito rápido!
Diferentemente da personagem Clara, de O Outro Lado do Paraíso, que traçou uma jornada de vingança, Maria segue uma jornada de resgates?
Maria segue uma jornada de amor, e de engano. Através dela se percebe a fragilidade de muitas situações nos dias de hoje.
Como foi sair de uma novela tão intensa como O Outro Lado do Paraíso e praticamente emendar outra novela igualmente intensa como A Dona do Pedaço?
Eu quis! Adoro escrever novelas, para mim é um trabalho absorvente e intenso.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.