Pellegrini, um escritor sempre presente

O escritor Domingos Pellegrini é um dos principais nomes da literatura brasileira contemporânea. Com vasta produção literária, ainda encontra tempo para apresentar um programa na Rádio da Universidade Estadual de Londrina, denominado ?O minuto do poeta?, em que não só apresenta, como também representa poemas seus e de outros poetas de forma singular, ressaltando as suas qualidades de ator.

Na edição 2006 do Prêmio Jabuti, dois de seus livros (Meninos no poder e Gaiola aberta), ficaram entre os três primeiros colocados nas categorias Romance e Poesia, respectivamente. E, por ser este um fato reiteradamente visto e comprovado, é oportuno realçar algumas impressões desse escritor, que efetivamente reside em uma chácara e faz da natureza recriada sua permanente companheira.

Pellegrini nasceu em Londrina e estudou Letras na UEL. Seu primeiro livro de contos O homem vermelho, foi o ganhador do Prêmio Jabuti de 1977. Além de Romances e poesias, escreve também romances juvenis, histórias infantis e teatro.

Uma rápida prosa com Domingos Pellegrini

Com tanta informação: internet, celular, televisão e outros meios, você acha que a literatura vai acabar? Ou mais especificamente o livro físico? Por favor, fale um pouco sobre este aspecto tão controverso atualmente.

Pellegrini– o Long-play não acabou, até mitificou-se. De tudo fica um pouco, como disse Drummond. O livro tem muitas vantagens, das quais as maiores são a portabilidade e a autonomia (não precisa ser recarregado…). Quem lê deitado um livro eletrônico? Ou à beira da piscina? O livro eletrônico, como a internet, são máquinas a serviço da cultura (e também de muita porcaria), enquanto o livro é um objeto cultural.

Na maioria das vezes para iniciar um romance, o escritor necessita realizar alguma (pequena ou grande dependendo do caso) pesquisa, para construir sua ficção. Em qual de seus livros você teve mais trabalho nesse sentido?

Pellegrini– Num livro desastrado, que saiu com 100 páginas mais do que devia, por entusiasmo meu, No coração das perobas. Durante dois anos pesquisei as revoluções brasileiras, lendo dezenas de livros, e justamente o excesso de pesquisa não-decantado faz o fracasso da história, que se interrompe para despejar falação sobre as revoluções passadas…Pesquisa é bom, quando dá densidade e veracidade, mas flui naturalmente na narrativa, em vez de transparecer. O romancista deve pesquisar, sem parecer que pesquisou… E há romances em que nada pesquisei, só vivi, como O caso da chácara Chão. Já A árvore que dava dinheiro, juvenil que desde l981 vende regularmente para escolas, é baseada na pesquisa de um só livro. História das riquezas do homem, de Leo Huberman. Há livros e livros, pesquisas e pesquisas.

Fale também sobre seu processo de criação.

Pellegrini – Depende: criação de quê? Em poesia, é instantâneo: vem a idéia de um verso, geralmente o primeiro, escrevo onde estiver, em poucos minutos, por isso preciso andar sempre com papel e caneta. Conto, mais ou menos assim, anoto a idéia, depois escrevo o conto, geralmente em poucas horas. Já em romances, a idéia central vem, anoto, penso a respeito, e começo a escrever quando sei aonde vou chegar, ou seja, tenho de saber o final, pois romance é um processo que se perde no caminho se você não sabe o destino.

Você acha que escrever para jovens e crianças é mais difícil? São leitores mais exigentes?

Pellegrini – Não é mais fácil. É uma literatura menos densa, mais leve, mas que deve necessariamente ser gostosa e envolvente. E, claro, deve ter algum sentido ético. Não vejo porque escrever para jovens se não for para a ética.

Quais são as suas leituras preferidas? Cite algumas das obras de ficção que você considera fundamental. Alguma delas teve influência sobre seu trabalho?

Pellegrini – As fábulas de Esopo. O velho e o mar, de Hemingway. Vidas secas, de Graciliano Ramos. A poesia de Castro Alves, Walt Whitman, Drummond e Bandeira, além de Augusto dos Anjos.

Na edição 2006 do Prêmio Jabuti, dois de seus livros (Meninos no poder e Gaiola aberta), ficaram entre os três primeiros colocados nas categorias Romance e Poesia, respectivamente. Como você lida com estes diferentes gêneros literários? Você se considera mais poeta ou mais prosador.

Pellegrini – Escrevo também crônicas e teatro, ou seja, acho que todos os gêneros literários. É um dom completo, parece… Quando estive em Serra Pelada, durante poucas horas, os garimpeiros me viram tomando notas, perguntaram se podia escrever cartas para as famílias deles, de modo que até cartas de garimpo escrevi. E, no tempo da ditadura, estatutos de associações civis, grupos de teatro, cooperativas culturais… Falta escrever meu epitáfio, como fizeram Brecht e Osho…

Você que é escritor do século XXI, com uma obra reconhecida e, produzindo, portanto, o que denominamos literatura contemporânea, acredita que esta literatura é bem divulgada atualmente e encontra maior espaço nos meios acadêmicos?

Pellegrini – A literatura tem o espaço que o povo leitor lhe dá. Quanto mais um povo lê, mais espaço tem a literatura, mais livros se vendem, claro, etc, etc. Infelizmente nosso povo ainda não aprendeu que ler é fundamental para ser e viver melhor.

Livros publicados por Domingos Pellegrini-

Juvenis: A árvore que dava dinheiro; Tempo de menino; Andando com Jesus; Ladrão que rouba ladrão; Negócios de família; Meninos e meninas; Bicho-gente; As batalhas do castelo; Água luminosa; A última tropa; O dia em que choveu cinza; Questão de honra; No começo de tudo; A guerra de Platão. Infantis: O dia em que Deus criou as frutas; A guerra do macarrão; A festa dos números; Romances: O caso da chácara Chão; Meninos no poder; Terra vermelha; No coração das Perobas; Contos: O homem vermelho; Tempo de guerra; Conversas de amor; Melhores Contos de Domingos Pellegrini; Poesia: O tempero do tempo; História Q; Gaiola aberta; Biografia: No tempo de seo Celso.

O escritor mantém uma página na Intertet – www.sitioterravermelha.com.br.

A autora trabalha na Editora da UEL e é doutoranda em Letras pela Unesp de Assis/SP

helenarias@uel

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