Pela memória da ópera brasileira

O projeto Memória da Ópera Brasileira, uma iniciativa do musicólogo Achille Picchi e do maestro Fábio Gomes de Oliveira, restaurou e irá distribuir gratuitamente a musicólogos, historiadores, pesquisadores estudantes e grande público, algumas das mais importantes obras do repertório lírico brasileiro. O primeiro trabalho restaurado é a ópera Joanna de Flandres, do compositor paulista Antônio Carlos Gomes (1836-1896), autor de O Guarani.

Com patrocínio da Unisys e apoio oficial de São Paulo, o projeto envolve uma obra de grande importância. Além de ser uma das primeiras óperas compostas em língua portuguesa foi através dela que Carlos Gomes recebeu de D.Pedro II uma bolsa de estudos na Itália.

As partituras completas de Joanna de Flandres, drama lírico em quatro atos, serão colocadas à disposição de todos os interessados. São 1.500 páginas publicadas pela primeira vez e distribuídas gratuitamente para bibliotecas, escolas e universidades. Achille Picchi, estudioso de Carlos Gomes há 20 anos, elaborou uma Partitura Vocal da ópera, com a redução de orquestra para piano, facilitando assim o estudo da obra além de permitir uma divulgação maior através de apresentações em recitais de canto e piano.

Depois de quatro anos de pesquisa com o levantamento de mais de 1.200 páginas de periódicos do século XIX, Fábio Gomes de Oliveira e Achille Picchi escreveram o livro Joanna de Flandres – A História de uma Ópera, que também será distribuído gratuitamente. Uma das pistas, segundo eles, para localizar a obra foi dada por padre José Penalva, grande pesquisador sobre Carlos Gomes, falecido em Curitiba recentemente.

O libreto original de Salvador de Mendonça, informações históricas sobre o compositor, a personagem real Joanna de Flandres e sua importância na Flandres medieval também estão na publicação. A tiragem do livro é de dois mil exemplares. As partituras terão 500 exemplares.

A segunda fase do projeto visa a montagem da ópera Joanna de Flandres. Aprovada em lei, esta etapa está em fase final de captação de recursos. O objetivo é estrear a ópera em 2003. Mas pela primeira vez em 139 anos trechos da ópera já serão apresentados no concerto de lançamento do projeto dia 18 próximo, na Sala São Paulo. Do evento, participarão Julianne Daud, Márcia Guimarães, Paulo Szot, Eduardo Itaborahy, Thoroh de Souza, Filarmônica de São Caetano do Sul e Coral Colegium Musicum de São Paulo. Narração: Alfredo Alves

A soprano Niza de Castro Tank, conhecida como a maior intérprete de Carlos Gomes, quem inclusive participou da primeira gravação integral de O Guarani em 1959 faz a abertura do concerto interpretando a canção Mamma Dice, única dentre as aproximadamente 40 canções que o compositor orquestrou de próprio punho.

O compositor e o musicólogo

Composta em 1863, Joanna de Flandres foi apresentada apenas três vezes no Rio de Janeiro no ano de sua composição. Em função de uma série de equívocos por parte de alguns historiadores, a obra foi considerada perdida até pelo próprio Carlos Gomes. Por muito tempo acreditou-se que ela havia sido destruída em um incêndio ocorrido no Teatro Santa Isabel, em Recife, no século XIX.

O primeiro ato de Joanna de Flandres está no Museu Histórico Nacional (RJ) e os outros três na Biblioteca da Escola Nacional de Música (RJ). A ópera integra um conjunto de obras compostas durante os sete anos em que funcionou a Imperial Academia de Música e Ópera Nacional. Muitas delas são ainda hoje desconhecidas e outras desapareceram.

Joanna de Flandres (ou A Volta do Cruzado) estreou em 15 de setembro de 1863, no Teatro Lírico Fluminense (antigo Teatro Provisório) no Rio de Janeiro, em uma apresentação dedicada a D. Pedro II. Sob a regência de Carlo Bosoni, Luiza Amat fez o papel de Margarida. Luiza era esposa de José Amat, organizador e diretor da Imperial Academia de Música e Ópera Nacional.

Uma das pistas para localizar a obra foi dada por padre José Penalva, musicólogo campineiro, como Carlos Gomes. Falecido em Curitiba em 20 de outubro último, Penalva deixou grande legado musical, como o livro Carlos Gomes, Compositor. Nele, Penalva revela muitas curiosidades sobre o músico conterrâneo, entre elas a comprovação de autoria de suas primeiras óperas.

Recuperadas agora, as partituras foram convertidas para o formato digital e atualizadas em um programa de escrita musical computadorizada. Assim, o manuscrito do século XIX tornou-se obra atualizada do século XXI. A edição computadorizada das partes individuais dos instrumentos e do coro permitirá sua execução por qualquer teatro de ópera do mundo.

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