Meses antes de gravar as primeiras cenas de Páginas da Vida, o diretor Jayme Monjardim decidiu ?mergulhar? no universo urbano e sofisticado das ruas do Leblon. Isso porque o bairro da zona sul do Rio de Janeiro seria, mais uma vez, o principal cenário da trama assinada por Manoel Carlos.
Acostumado a dirigir novelas e minisséries de época ou rurais, o diretor da novela das 21h da Globo estava sentindo-se um ?peixe fora d?água?. Mas, aos poucos, a parceria com Maneco foi ganhando forma. Com uma média de 25 a 35 cenas gravadas por dia, pode-se dizer que Jayme está adaptado ao ?estilo? do autor. E à correria das gravações também. Ele não revela se há uma falta de frente de capítulos e garante que os roteiros da novela são liberados em tempo hábil. ?Temos estrutura para fazer um trabalho ágil e com qualidade?, defende Monjardim. A excelente média de 55 pontos de audiência confirma o diretor.
P – Você sempre conduziu as novelas que dirigiu de forma autoral. Como é trabalhar com o Manoel Carlos, que tem um texto rico em diálogos que não oferecem muita liberdade ao diretor?
R – Páginas da Vida é uma novela em que a direção – para que exista – tem de ter um mínimo de interferência. Não adianta eu querer inventar um monte de movimentos se a cena pede uma direção mais simples. Então, a minha simplicidade é o que vai ajudar a dar personalidade à novela. Um excesso de direção pode dificultar o entendimento da trama. Acredito que o grande segredo é deixar o elenco mais solto.
P – Além de Páginas da Vida ser o seu primeiro trabalho com o Maneco, a novela tem uma temática mais realista que é nova para você. Como você vê essas duas uniões?
R – Para mim está sendo uma experiência nova, porque sempre fiquei envolvido em projetos mais épicos e grandiosos. E Páginas da Vida é um grandioso épico da alma humana. É totalmente diferente. Quer dizer, estou tendo a oportunidade de fazer um mergulho dentro da alma. Diria que é uma viagem dentro do cérebro e dos sentimentos humanos. Além disso, estou em um momento importante da minha carreira como diretor, por ter a oportunidade de ?pegar Manoel Carlos pela frente? e dar a minha visão em um trabalho dele.
P – Os depoimentos exibidos ao final de cada capítulo tornaram-se uma marca da novela. Essa era a intenção?
R – Sim. Pensamos num meio de o telespectador ter, ao final de cada capítulo, um testemunho real de uma situação da vida. São depoimentos muito rápidos – que duram entre 30 e 40 segundos – de pessoas que passaram por alguma experiência e que, de alguma maneira, deram a volta por cima. Então, independentemente de o telespectador ficar com o capítulo na cabeça, ele ganha algo a mais para refletir. E isso realmente dá aos capítulos uma característica própria, uma assinatura final.
P – Desde a primeira fase a novela se divide entre Rio de Janeiro, Amsterdã e África. Por que você e o Maneco escolheram essas localidades como cenários de Páginas da Vida?
R – O Leblon é o principal cenário do Maneco. A Holanda foi o local que imaginamos ideal para o romance do casal Nanda e Léo – interpretados por Thiago Rodrigues e Fernanda Vasconcellos. Amsterdã é uma cidade belíssima, com muita juventude e rica em arte e arquitetura. Já a África, o Manoel Carlos quer sensibilizar as pessoas com aquela realidade dura daquele continente, à medida que o Diogo – médico infectologista vivido por Marcos Paulo – vai entrando na história. Acreditamos que esse contraste entre Amsterdã, Rio de Janeiro e África dará uma tempero muito especial à novela.
P – Essa idéia de gravar em localidades diferentes e pouco conhecidas é uma característica muito sua…
R – Novela é um casamento. Então, toda a aprovação é feita sempre por nós dois. Posso dar uma sugestão, mas o Maneco tem de aprovar também. Assim como ele pode ter uma idéia e nós a discutirmos. É uma relação de troca. Quando pensamos em Amsterdã, por exemplo, fui até lá fotografar, trouxe as fotos e o Maneco adorou. Quer dizer, não existe novela sem equipe. E a equipe é feita de diretores, autores e atores.