Antes mesmo do início do espetáculo, Pedro Cardoso já está em cena interagindo com a platéia. Com seu jeito irônico, deixa os espectadores à vontade para conversarem durante o monólogo ou mesmo se levantarem para ir ao banheiro. Em seguida, avisa também que não se incomoda se alguém esquecer o celular ligado e ele, porventura, tocar durante a apresentação. Por fim, critica a ganância dos donos de teatro que constroem fileiras de poltronas tão próximas umas das outras. É nesse clima, de descontração e informalidade, que Pedro apresenta o monólogo Os Ignorantes, também escrito e dirigido por ele. Já completamente à vontade, o público corresponde às expectativas do ator, arriscando interjeições bem-humoradas ou soltando a voz na música Acontece, de Cartola. “No teatro, nada é inusitado. Inusitado é quando a platéia não se manifesta. Aí, sim, eu fico preocupado”, brinca ele.
Apesar do tom leve e debochado, o ponto de partida de Os Ignorantes é uma bala perdida que atinge um menino pobre da cidade grande. Daí em diante, Pedro mistura esquetes de humor e literatura de cordel para contar as histórias dos muitos personagens envolvidos na tragédia: do padrasto evangélico à mãe cantora de cabaré, passando por um “pitboy” da zona sul carioca. No cenário de Gringo Cardia, painéis com fotos dos “personagens” ilustram a narrativa. “Na vida pessoal, sou tão engraçado quanto qualquer um. Engraçadas são as histórias. Eu apenas as conto direito”, minimiza.
No palco do Teatro das Artes, na Gávea, zona sul do Rio de Janeiro, Pedro Cardoso faz rir e pensar acompanhado apenas de dois músicos: a pianista Maria Teresa Madeira e o percussionista Rodolfo Cardoso, que pontuam o monólogo com belos solos de piano e xilofone. Mas, apesar da presença dos dois em cena, Pedro Cardoso sente-se só. E muito. “Antigamente, o mesmo artesão fazia a carroça inteira. Hoje, ele só faz a roda. Sou daqueles que gostam de construir a carroça inteira”, explica, metafórico.
Autor
Na tevê, Pedro Cardoso também já teve a oportunidade de exercitar seu lado autoral em programas como TV Pirata, Programa Legal e A Comédia da Vida Privada, todos capitaneados pelo diretor Guel Arraes. “Eu me orgulho de ter participado de um grupo que fez coisas muito significativas na tevê”, sublinha o ator, referindo-se a Luís Fernando Veríssimo e Jorge Furtado, entre outros. No momento, Pedro orgulha-se de integrar o elenco de A Grande Família, onde interpreta o “bicão” Agostinho Carrara. “O Agostinho é um arquétipo do herói brasileiro, sem caráter, que vive à margem da sociedade. Ele é um malandro que apronta não para se dar bem, mas para sobreviver”, defende.
O ator garante que, desde que estreou na tevê, nunca viveu um tipo tão popular quanto o atual. “O assédio nas ruas é grande, assustadoramente grande. Ainda mais para um sujeito como eu, avesso a esse tipo de idolatria. A arte deve ser sempre maior que o artista”, discursa. Mas, na contramão do assédio “assustadoramente grande” que verifica nas ruas, Pedro festeja o sem-número de convites que recebe para fazer publicidade. “Isso é bom porque ganho dinheiro e conquisto bens materiais que, de outra maneira, eu jamais conquistaria…”, reconhece ele, que já emprestou sua veia cômica para anúncios do Terra, Banco do Brasil e Telemar.
Mais trabalho
Mas, se depender do seriado da Globo, Pedro vai continuar aparecendo no intervalo comercial por um bom tempo. Afinal, A Grande Família não só já voltou das férias com episódios inéditos, como chega às telas de cinema em 2005. Por isso, o ator ainda não sabe se vai excursionar ou não com o monólogo. Mesmo assim, ele comemora o sucesso da atual temporada. Em cinco meses, Os Ignorantes já completou 100 apresentações e atraiu um público de 35 mil espectadores. “Cada vez me interessa menos a opinião especializada da crítica, do colega ou da inteligência. A opinião mais nítida e cristalina que conheço é a que você obtém do público”, acredita ele, já habituado às ruidosas gargalhadas que ouve a cada nova apresentação.
