Construir pontes em vez de levantar muros é basicamente a proposta do projeto Babylon – Beyond Borders, ou Babilônia Sem Fronteiras, que envolve realizadores de quatro países para discutir os conceitos de casa, exílio e migração. O espetáculo teatral parte do episódio bíblico da Torre de Babel – que teria resultado no surgimento dos vários idiomas usados no mundo – e o relaciona com construções emblemáticas de Nova York, Londres, Johannesburgo e São Paulo, com transmissão simultânea pela internet das encenações em cada cidade. Aqui, a peça é apresentada no Sesc Consolação, desta terça-feira, 12, até o sábado, 16, a partir das 17h.

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Babylon surgiu durante uma residência artística de alguns dias realizada no Bush Theatre, na capital britânica, em novembro, da qual participou o brasileiro Pedro Granato, do teatro Pequeno Ato. Desde então, o diretor vem driblando as diferenças de fuso horário e concebendo o espetáculo com a inglesa Ruthie Osterman, a sul-africana Mwenia Kabwe e a cantora norte-americana Sarah Elizabeth Charles por conversas pelo Skype e WhatsApp.

“A ideia é conectar quatro teatros para construir algo, para tentar refletir. Então, não tem uma vontade de que tudo fique na mesma linguagem, tudo limpo, porque a gente está falando de países diferentes, de estéticas diferentes”, diz Granato. Na Inglaterra, a apresentação de Ruthie é composta apenas por mulheres. Na África do Sul, Mwenia realiza uma performance com jovens estudantes. Já nos Estados Unidos, as Torres Gêmeas inspiram as canções de Sarah.

O brasileiro, que já participou – como ator – de outra experiência de produção com equipe internacional, a peça País Clandestino, convidou a atriz e cantora baiana Karina Buhr e o artista plástico, músico e ator congolês Gloire Ilonde para integrar o projeto. Segundo Granato, cada um deles – a combativa Karina e Gloire, que faz parte da Ocupação 9 de julho – representa grupos que, para o encenador, são considerados “inimigos públicos” no momento atual: os artistas e os movimentos sociais.

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“Se tem uma coisa que eu quero contar sobre o Brasil de hoje, eu lembrei primeiro do Paiçandu caindo – e o Gloire viu (o incêndio e, posterior, desabamento do prédio Wilton Paes de Almeida, no centro, onde viviam cerca de 150 famílias de sem-teto, em maio passado) -, e pensei muito nas ocupações. Para mim, o tema metafórico do Brasil para se discutir casa no sentido profundo é o país que está em chamas, o país que está em guerra social”, comenta ainda Pedro Granato.

Por motivos diversos, Karina e Gloire escolheram São Paulo como lar e compartilham com o público memórias e experiências. Mas não são depoimentos burocráticos, frisa a atriz, que nasceu em Salvador, cresceu no Recife e passou uma temporada na Alemanha, terra de seu avô materno, que chegou ao Brasil na década de 1930. “Está sendo massa e também conflituoso porque a gente tem pouco tempo para falar e quer falar de coisas que nunca falou em público”, resume.

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Gloire evita comentar os motivos que o fizeram deixar a República Democrática do Congo para estudar em Florianópolis, oito anos atrás. Em seu depoimento na peça, o artista faz questão de dizer “Democrática entre aspas”. Mas também conta as expectativas desfeitas no País que imaginava mais acolhedor. “A primeira vez que eu me senti preto foi aqui no Brasil. Eu já sabia que era preto, mas não sabia tanto assim. As pessoas me apontavam, fugiam de mim, não sentavam do meu lado na faculdade”, relata, com um leve sotaque francês.

“Eu e outros imigrantes refugiados que estão no Brasil não somos bandidos, não somos terroristas. Somos pessoas do bem que estamos saindo das zonas de conflitos, que estamos sendo perseguidos”, diz também. “Ninguém sai de um país para se exilar em outro pela própria vontade. Mas porque você está sendo obrigado a sair senão vai perder a vida”, acrescenta o ator congolês Gloire Ilonde.

BABILÔNIA SEM FRONTEIRAS

Sesc Consolação

Rua Dr. Vila Nova, 245. Tel. 3234-3000. 3ª (12) a sáb. (16), 17h.

R$ 30. Até 16/2

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.