Sem atores, Pendente de Voto, criação do diretor catalão Roger Bernat, transforma o público em protagonista. No espetáculo, que já foi visto em Brasília e chega ao Sesc Pompeia na sexta-feira, 06, o teatro se transforma em uma espécie de parlamento. E, aos espectadores, cabe decidir sobre uma série de questões.
“O que ocorre nas minhas peças é que não há espectadores no sentido tradicional, porque eles assumem o papel dos atores. Essa é uma velha aspiração do teatro do século 20, desde Bertolt Brecht até Augusto Boal”, diz o diretor, que já assinou uma série de obras nas quais coloca a participação popular em discussão. Em São Paulo, o título compõe a mostra Multitude, uma programação que traz exposições e espetáculos acerca do tema multidão.
Logo no início da encenação, cada pessoa na plateia recebe um controle remoto. Com o aparelho em mãos, será convidada a se posicionar diante de diversos temas: Dos mais prosaicos aos mais complexos. Discutindo desde meandros da política de segurança pública até a sua marca de chiclete favorita.
São as respostas da plateia que fazem o espetáculo evoluir. Levando os participantes a experimentar, na prática, o princípio da democracia. Conforme avança a obra, o espectador é forçado a delegar poder para um representante, que passa a votar e a escolher por ele.
“Os espetáculos partem de dispositivos que são colocados nas mãos do público. Nada acontece se o espectador não decidir cruzar essa fronteira. Nesse caminho, ele terá que enfrentar a sua própria vontade, encontrar as coordenadas que o orientem e, finalmente, construir a sua própria obra”, argumenta Bernat.
Nesse questionamento dos mecanismos democráticos, o primeiro passo é compartilhar o seu controle remoto com a pessoa que estiver ao seu lado. Após pouco menos de 1 minuto de debate, a dupla deve chegar a um consenso e apresentar um voto único. Daí por diante, a possibilidade de diálogo e a procura por um ponto de vista comum vai parecer mais e mais complicada.
Ao final da montagem, todas as decisões da plateia – que na versão paulistana comporta 126 espectadores – devem ser tomadas por um único representante.
Naturalmente, os debates tornam-se acalorados e os conflitos entre posições distintas, inevitáveis. “É muito importante distinguir a participação da manipulação. Ambos os termos se entrelaçam nessas campanhas intermináveis que nos convidam a fazer parte de redes, de programas e shows”, observa Bernat.
Pendente de Voto foi criado em 2012 e já foi visto em países como Espanha, Coreia, França, México, Eslovênia, Chile, Inglaterra, Holanda e Áustria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.