Peça ‘O Terno’ é baseada no conto do escritor sul-africano Can Themba

Aos 90 anos, o encenador inglês Peter Brook, um dos mais prestigiados do mundo, ainda consegue transformar indignação em arte. Exemplo recente é O Terno, peça que nesta quinta-feira, 23, e que será encenada em curta temporada (até domingo) no Sesc Pinheiros – os ingressos já estão esgotados.

Baseada no conto do escritor sul-africano Can Themba, escrito nos anos 1950, a peça acompanha Philemon, um advogado de classe média, e sua mulher Matilda. Ela tem um amante e o casal é descoberto em flagrante por Philemon. Para castigar a mulher, Philemon faz Matilda tratar um terno como se fosse um convidado de honra, ou seja, precisa alimentá-lo, dar-lhe atenção e sair frequentemente com ele a passeio. Uma forma de manter a constante lembrança de seu adultério.

Quando escreveu o conto, Themba acreditava no sucesso. “Isto mudará nossa vida e nos trará fortuna”, disse ele à esposa, mas o apartheid, regime de segregação racial que passou a vigorar a partir de 1948, baniu os livros de Themba e de outros autores negros. Exilado na Suazilândia, o escritor morreu em 1968, de pobreza, tristeza e alcoolismo.

Brook já conhecia o conto e até dirigira uma versão em francês. Ao retomar o assunto, anos depois, agora em inglês, a peça foi adaptada e musicada, bebendo em fontes musicais tão diversas quanto Franz Schubert e Miriam Makeba. Para isso, contou com dois antigos colaboradores, a também diretora Marie-Hélène Estienne e o compositor Franck Krawczyk.

“Franck e eu estávamos em tournée e um dia, em Amsterdã, ouvi um artista popular cantar Serenade que, pensei, ser a melhor canção para Matilda”, conta Marie-Hélène ao jornal O Estado de S.Paulo. “Franck, então, sugeriu que adicionássemos ingredientes de A Morte e a Donzela (peça do chileno Ariel Dorfman sobre o reencontro de uma mulher com o homem que a torturou, agora em situação inversa) e começou a trabalhar nisto. Quando ensaiamos com Peter, a música encontrou seu lugar naturalmente, inserindo outro elemento que descobrimos no Chile, ou seja, como Victor Jara morreu, colocando sua história na peça, como também a tristeza universal da escravidão. A escravidão ainda existe hoje, mas em outro formato.”

A história se passa em Sophiatown, um populoso reduto destruído pelo apartheid pouco depois de Themba ter escrito seu conto. O lugar é tão perturbador que se transforma em personagem da peça.

“O que nos teria levado de volta a O Terno, uma peça que já tinha viajado pelo mundo por tantos anos com texto em francês? A resposta é simples: nada no teatro permanece imóvel; alguns temas simplesmente se esgotam e outros anseiam por voltar à vida”, explica Brook. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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