Em 1997, o dramaturgo americano Adam Rapp viajou com seu melhor amigo para Amsterdã, na Holanda, onde conheceram uma prostituta na região conhecida por Bairro da Luz Vermelha. Rapp buscava ajudar o colega, que sofria por um desentendimento amoroso. A mulher, no entanto, envolveu-se com os dois e modificou o relacionamento entre os amigos. A trama marcou também Rapp que, em 2005, escreveu e dirigiu a peça “Inverno da Luz Vermelha”, cuja montagem nacional estreia amanhã, no Teatro Faap, em São Paulo, marcando a volta de Monique Gardenberg à direção teatral depois de três anos, atendendo ao convite dos produtores Beto Amaral e Pedro Igor Alcântara.
Como não poderia ser diferente, a concepção ganhou ares mais requintados – inicialmente desinteressada pelo texto, cuja primeira leitura revelou um certo exagero dos personagens, Monique logo descobriu o fio condutor que orientou sua concepção criativa. Assim, David (André Frateschi), decidido a ajudar na recuperação sentimental de Matheus (Rafael Primot), aproveita a viagem de férias que fazem à capital holandesa para contratar o serviço de Christine (Marjorie Estiano), prostituta francesa. O encontro ultrapassa o simples jogo sexual, pois uma relação de afetividades mal resolvida acaba se instaurando.
“Não consigo trabalhar com personagens totalmente desprezíveis, assim, depois de limitar um pouco a ação de cada um deles, acredito ter encontrado o tom certo”, conta Monique, que faz aparas sutis mas necessárias. David, por exemplo, no original, é completamente execrável, da mesma forma que Matheus é homem por demais torturado em sua amargura. “Na nossa versão, isso não acontece, assim como foi eliminado um certo moralismo”, observa Frateschi. Ele se refere especificamente à ação do segundo ato, quando, passado um ano, os personagens voltam a se encontrar, agora em São Paulo.
Nesse momento, Matheus revela sua total devoção por Christine, representada por um casaco que ela deixou no quarto, depois daquela noite. A moça, aliás, volta ao Brasil em busca de Davi – sim, ela não é francesa e se chama, na verdade, Ana. E, depois de descobrir que é portadora de um vírus letal, retorna ao País. O reencontro do trio é trágico e lembra o célebre poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade: Matheus ama Christine/Ana, que ama Davi, que não ama ninguém. Foi sobre esse triângulo que a encenadora lapidou as relações amorosas de forma direta. “Rapp retrata a dor do mundo ao mostrar o tamanho do desencontro das pessoas”, afirma Monique. “E o resultado dessa aposta errada é a solidão”, sentencia Marjorie Estiano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Inverno da Luz Vermelha – Teatro Faap (500 lugares). Rua Alagoas, 903, Higienópolis. Tel. (011) 3662-7233. Sexta e sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 60. Até 26/09.