O revival dos anos 80 tem sido injusto com aquilo que a década em questão produziu de melhor. Engana-se quem acredita (ou foi convencido a acreditar) que os 80 eram uma espécie de festa ‘ploc’ – cheia de Balão Mágico, Sérgio Mallandro, RPM, Ursinho Blau, Blau e similares. Neste período, a contracultura, principalmente através dos escritores e poetas beats (como Kerouac, Bukowski e John Fante), influenciaram jovens no auge da sua forma criativa. É só pensar em Caio Fernando Abreu, Reinaldo Moraes, Marcelo Rubens Paiva, Arrigo Barnabé…

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Em “Corações Under Rocks”, espetáculo que estreia hoje, às 21h, no Centro Cultural São Paulo, o autor e ator Márcio Américo tenta recuperar o que de bonito e rico tem ficado escondido sobre os escombros (e o lixo) dos anos 80. “A peça é uma ode à geração, à minha turma de amigos, ao pessoal que fazia teatro e arte em geral em Londrina (PR), nos anos 80. Mas é principalmente um espetáculo sobre a amizade”, diz Márcio Américo. “A peça não é totalmente autobiográfica, mas está bem próxima disso”, completa.

Em cena, além do próprio Américo, o ator Nelson Peres. A direção é de Lucia Segall (neta do pintor Lasar Segall – 1891-1957 – e sobrinha da atriz Beatriz Segall). O responsável pela sonoplastia do espetáculo é um contemporâneo de Américo, o também dramaturgo e músico Mario Bortolotto.

Em “Corações Under Rocks”, dois amigos se reencontram depois de 20 anos. Marcos e Elton, interpretados pelos atores Nelson Peres e Márcio Américo, viveram intensamente os anos 80. Na época, eles mantiveram um grupo de teatro amador – em que Elton escrevia as peças e Marcos interpretava os papeis mais marcantes. Apesar da amizade, um trauma separou os amigos artistas. Passados 20 anos, eles não são os mesmos. Para que uma reconciliação aconteça é preciso que a dupla abra velhas feridas e o baú dos anos 80 – com seu conteúdo de sexo, drogas, músicas e literatura beat.

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“Essa é uma geração heroica e sobrevivente. Nós (dos 80) nascemos depois da ditadura, ou nos tornamos adultos, depois dela. Crescemos sem um inimigo definido, rebeldes sem causa. O que foi muito mais difícil e complicado. Já somos heróis simplesmente porque sobrevivemos aos anos 80”, fala Américo. O autor vai mais longe e diz que o nível cultural dos jovens daquela época era mais elevado. “Na peça, por exemplo, os personagens se provocam dizendo quem leu Joyce (James Joyce). Uma coisa que hoje em dia não existe”, completa. As informações são do Jornal da Tarde.

Corações Under Rocks – Sexta e sábado, às 21h; domingo, às 20h. Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1.000, Paraíso). Tel. (011) 3397-4002. Ingresso: R$ 10.

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