Peça de Jandira Martini questiona sistema de ensino

Os adolescentes estão entediados. No novo filme de Sofia Coppola, “Bling Ring”, são meninas enfadadas que assaltam as casas das celebridades de Hollywood. Mas o tédio não é privilégio dos jovens. Em “Prof! Profa!”, espetáculo que estreia neste sábado no Sesc Ipiranga, Jandira Martini interpreta uma professora que, desiludida com o que presencia nas salas de aula, decide romper com a mesmice e tomar uma atitude radical.

Escrita pelo belga Jean Pierre Dopagne, a peça conta a história dessa mulher – que não sabemos ao certo quem é nem o que fez – que foi condenada pela justiça. Além da prisão, contudo, ela foi submetida a mais uma penalidade: subir todas as noites ao palco de um teatro e, diante da plateia, relatar o seu crime.

Dedicada ao ensino da literatura, a ex-professora se deparava com alunos desinteressados. Em seu anos de carreira, ela observa que eles se tornaram mais agressivos e sabem cada vez menos. Só que não soube se adaptar aos novos tempos: época de comunicação mediada por ferramentas tecnológicas, de embrutecimento, dissolução de antigos valores e quebra de hierarquias. “Ela é uma idealista. Queria ser uma professora como uma das que teve quando era criança e queria que os alunos se comportassem como ela se comportava naquela época”, acredita Jandira.

Existe um nítido descompasso entre o sistema educacional e o mundo contemporâneo. Mas, diante das mudanças com as quais não pactua, essa educadora não consente em resignar-se. Resiste àquilo que o presente lhe impõe como verdade inescapável. Abre mão do lugar de vítima para tornar-se uma agente da tragédia.

Jandira é reconhecida por sua desenvoltura em papéis cômicos. Mas, nessa criação, vê-se diante de um humor de outra natureza. Muito diferente inclusive, das suas criações como dramaturga. “Não tem estrutura de texto cômico, mas momentos de graça, esse riso que é provocado por algo cruel. É um tipo de humor raro no Brasil, o texto é muito ferino”, comenta a intérprete.

Esse é o primeiro monólogo da carreira da atriz. “Era o texto perfeito para isso. Por que o discurso dela não é um solilóquio. O tempo inteiro está falando com a plateia, jogando com quem a assiste.” Na montagem, ela também não dá voz apenas à professora. Assume vários personagens que a rodearam ao longo da vida: uma série de alunos, as mestras que a ensinaram no colégio, o próprio pai.

Quem conduz a encenação é Celso Nunes, diretor com o qual a atriz mantém uma longeva parceria. O primeiro trabalho juntos data de 1966, uma montagem de “A Falecida”, de Nelson Rodrigues. O último encontro havia acontecido em 1992, quando fizeram “A Vida É Uma Ópera”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

PROF! PROFA!

Teatro do Sesc Ipiranga (Rua Bom Pastor, 822, tel. 3340-2000). Sáb., às 21 h; dom., às 18 h. R$ 15/R$ 30. Até 29/9.

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