Paulo Markun relembra em livro a prisão e morte de Vladimir Herzog

"Alguns vão parar no olho do furacão por vontade própria. Outros chegam lá por força das circunstâncias. Foi o que aconteceu com Vladimir Herzog e comigo". Com esse depoimento o jornalista Paulo Markun abre a apresentação de seu mais recente livro, Meu Querido Vlado. A obra é um relato pessoal do apresentador e diretor do programa Roda Viva, da TV Cultura, sobre os acontecimentos que cercaram a prisão e morte do também jornalista e então diretor de jornalismo da TV Cultura Vladimir Herzog, em outubro de 1975, nos porões da ditadura militar. "Eu levei cerca de quatro meses escrevendo o livro. Mesmo sendo um relato pessoal, fiz um trabalho de pesquisa muito intenso", conta Markun.

Trinta anos depois, Paulo Markun segue adiante. Com mais oito livros no currículo, entre eles uma reunião de relatos também sobre a morte de Herzog, lançado em 1985, o jornalista apresenta desde 1998 o programa de entrevistas Roda Viva da TV Cultura, do qual também é diretor desde maio deste ano. Tanto em seus livros quanto em sua atuação no programa e em palestras que faz em faculdades de jornalismo, Markun reafirma a necessidade de se tocar em assuntos como tortura e repressão. "Falar desses temas é o primeiro caminho para que aquelas coisas não aconteçam novamente", sentencia.

P – O que o motivou a escrever um segundo livro sobre o Herzog?

R – Foram duas coisas. A primeira delas foi a ocasião da data redonda, já que em outubro completaram-se 30 anos da morte do Vlado. A segunda razão foi que a editora me propôs que eu fizesse um relato pessoal sobre os acontecimentos que resultaram na morte do Vlado. O outro livro era uma reunião de depoimentos. E nesse novo livro eu falo também do projeto profissional que nós tínhamos para a TV Cultura na época.

P – Sendo um relato pessoal, você fez entrevistas para o livro?

R – Fiz algumas para dissipar algumas dúvidas e rememorar certos episódios. Mas o trabalho principal foi a partir do arquivo do Estado, pesquisando documentos do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) que rastreiam as prisões. Não tive nenhum problema para ter acesso aos documentos do Dops. Tive problema para ter acesso aos documentos do SNI – Serviço Nacional de Informação. Toda essa documentação do SNI continua até hoje inacessível a qualquer pesquisador.

P – O Roda Viva é tido como imparcial por uns, como "reduto tucano" por outros… Como você recebe essas opiniões?

R – Com absoluta tranqüilidade. A TV Cultura tem um conselho diretivo e eu tenho autonomia para exercer minha atividade como jornalista. Os entrevistadores são profissionais convidados de diversos veículos. E o programa foi construído ao longo de 19 anos. Outras pessoas dizem que o programa é ninho de petistas. Isso me dá a segurança de que estamos no caminho certo. O Roda Viva apresenta várias tendências e aborda questões significativas para a sociedade.

P – Há espaço na tevê brasileira para programas mais densos?

R – Deveria haver mais. A tevê comercial se pauta por regras de busca de audiência, procura abranger a enorme diversidade do público, o que dificulta uma maior profundidade. Na época da ditadura havia ainda menos. Mas deveria haver mais, principalmente nos horários em que a maior parte da população pudesse ter acesso. A televisão pública tem a vantagem de não ter a preocupação com a audiência. Mas outros programas, em várias emissoras, têm procurado abrir espaço para debates.

P – Como observa o jornalismo praticado hoje na tevê brasileira?

R – De um modo geral, é bom. O telejornalismo brasileiro parte de um parâmetro indiscutível de qualidade que é a Rede Globo, pelos recursos que ela tem. Outras emissoras melhoraram sua competitividade, mas as diferenças ainda são gigantescas. O aspecto negativo é o crescimento de uma tendência do jornalismo espetáculo, em que não se sabe onde começa o entretenimento e onde termina o jornalismo. São os casos desses programas meio policiais. Mas, a longo prazo, o panorama melhorou.

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