O cenário não poderia ser melhor. Em pleno Hyde Park, no coração de Londres, logo após a derrota da Inglaterra para a Alemanha pelas oitavas de final da Copa do Mundo, quando a cidade, ainda que ensolarada, curtia uma certa tristeza pela derrota, Paul McCartney entra no palco do Hard Rock Calling Festival (que começou no dia 25 e já contou com Pearl Jam, Elvis Costello e Stevie Wonder) disposto a fazer valer a máxima “quem canta seus males espanta”. Não fosse este um dos (quase) últimos shows a céu aberto do ex-Beatle para um grande público (segundo números oficiais, aproximadamente 40 mil pessoas pagaram cerca de 70 libras – R$ 210 – para assistir ao mestre Paul), a apresentação de domingo não passaria de mais uma das centenas que ocorrem em dezenas de festivais de verão na Inglaterra.

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Mas Paul estava disposto a provar porque, aos 66 anos, ainda tem fôlego para levar sua plateia ao delírio. Às 19h30 (15h30 do Brasil), subiu ao palco com pontualidade britânica e começou a esquentar uma plateia que parecia ainda um tanto amortecida. Pausa depois da primeira música: “Antes de realmente começar, deixem-me olhar bem para vocês. Esta será uma noite muito especial.”

E o que se seguiu confirmou a promessa. Como poucos, Paul é capaz de tirar da inércia até mesmo o mais preguiçoso dos fãs. Sejam eles ingleses ou não. Como não poderia deixar de ser em um show beatlemaníaco, a plateia era heterogênea e multi-idade. Pais, mães, filhos, netos. Ingleses, brasileiros, alemães, italianos? Mas a torcida era torcida, unânime, para o show ser memorável. E foi. No set list, muito bem equilibrado entre clássicos para agradar aos saudosos beatlemaníacos e sucessos pessoais com novas canções, não faltaram “Got to Get You Into My Life”, “The Long and Winding Road”, “Hey Jude”, “Something”, “A Day in the Life”, “Give Peace a Chance”, “Let It Be”…

Nada seria digno de nova nota não fosse exatamente a direção cuidadosa do show e o talento de showman de Paul que, combinados, transformam um espetáculo, cujo áudio deixava muito a desejar, em uma “história cantada da vida do músico”. Antes de “My Love”, a declaração: “Esta eu escrevi para Linda (sua primeira mulher, que morreu de câncer em 1998). E dedico a todos os amantes desta plateia.” Netos e avós deram as mãos para cantar “Hey Jude” por 10 minutos, sem parar, mesmo depois que o cantor deixou o palco pela segunda vez, obrigando-o a voltar por mais outra hora inteira.

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Já eram 22h18 quando o cantor tentou terminar pela terceira vez e mandou “Helter Skelter”, mas a plateia não deixava. “A gente tem que ir embora. A não ser que vocês queiram dormir no parque”, disse Paul, que ouviu um sonoro: “Sim!” Para, finalmente, tentar expulsar o público, que nesta hora já pulava, dançava e não arredava pé, “Ob-la-di, Ob-la-da… Life goes on…” A vida continuava e o show não acabava. Para terminar, claro: “Sargent Peppers Lonely Heart Club Band”. Paul levou muito amor para casa neste domingo e avisou: “Até a próxima.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.