Um dos pioneiros da arte abstrata ao lado do amigo russo Kandinski (1866-1944), o pintor suíço Paul Klee (1879-1940) ganha, a partir do dia 13, a mais completa retrospectiva na América Latina, um conjunto de 123 obras que será exposto no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em São Paulo, seguindo depois para o Rio (em maio) e Belo Horizonte (em agosto). A mostra cobre todos os períodos de criação de Klee, da infância – um desenho a lápis e carvão retratando uma árvore de Natal (1884) – à maturidade – uma têmpera sobre papel colado sobre cartão que evoca uma paisagem noturna com duas montanhas e a lua cheia (1939).
Klee começou a montar seus desenhos em suportes secundários por volta de 1903 e prosseguiu na prática até sua morte, em 1940. A citada obra de 1939 mostra, portanto, sua fidelidade à metodologia de conservação de seus trabalhos – o artista começou a catalogar de forma sistemática sua produção em 1911 e registrou quase 10 mil obras, das quais 4 mil pertencem ao acervo Zentrum Paul Klee de Berna, que traz ao Brasil a exposição Paul Klee – Equilíbrio Instável, com curadoria da historiadora de arte suíça Fabienne Eggelhöffer.
Autora de livros sobre Paul Klee, como Theater Everywhere (2008), em que analisa as relações do pintor com o teatro, Fabienne concedeu uma entrevista exclusiva ao Caderno 2 na qual analisou o cruzamento entre o visível e o legível na obra do artista. Nesse aspecto, ela concorda com o crítico norte-americano Clement Greenberg (1909-1994), que definiu a arte do suíço, nos anos 1950, como uma operação na qual meios literários foram usados com objetivos não literários. Há muitas peças selecionadas para a mostra do CCBB que sugerem a apropriação de signos gráficos de diversas culturas, como hieróglifos, sem correspondência lógica.
“Klee criou ao mesmo tempo imagens abstratas e figurativas, nas quais a linha ocupou o posto central, uma espécie de ‘eureka’ para exprimir o movimento”. Em outras palavras, Klee não tinha interesse no que estava sendo representado, mas em como representar, segundo Fabienne. “Desse modo, a escritura serviu, sim, de modelo para Klee – e estamos falando tanto da caligrafia árabe como da chinesa -, mas ele distorceu o seu significado para inventar outros signos.”
A curadora evoca a mais célebre frase de Paul Klee – “a arte não reproduz o visível, ela torna visível” – para explicar a jornada do artista da figuração para a abstração, influenciado pelas ideias de Kandinski, Delaunay e Picasso. Klee foi companheiro de Kandinski na Bauhaus, a histórica escola alemã de arquitetura e design, onde passou a lecionar em 1921. Há na mostra um segmento dedicado ao período, destacando-se um óleo sobre cartão (de 1927) que lembra as construções ortogonais de Mondrian.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.