Carlos Lombardi não é mais o mesmo. Nas últimas tramas do autor, havia uma sucessão de corpos seminus e cenas eletrizantes de ação com doses generosas de sensualidade. Em Pé na jaca, eles continuam presentes, mas Lombardi explora um ritmo novo que, apesar de manter o corre-corre característico, reserva mais espaço para pretensões dramáticas. O clima de aventura passa a dividir o tempo com o romance. O resultado da mudança se reflete na atuação dos atores que encarnam os personagens centrais. Marcos Pasquim e Fernanda Lima, por exemplo, se mostram mais maduros e aproveitam as situações dramáticas para se destacarem em uma novela recheada de nomes fortes.
A idéia de usar cinco protagonistas deu certo. Além de evitar a superexposição de um personagem, combina com o dinamismo clássico de Lombardi. E favorece quando alguma coisa não sai conforme o esperado. É o caso de Deborah Secco, que perde cada vez mais espaço com sua Elisabeth. Mesmo depois de seis meses, a atriz ainda não achou o tom certo para as maldades de sua personagem. O ar sóbrio e sério escondeu o charme que a maioria dos vilões dos folhetins ganham e deu espaço para que Fernanda de Freitas, que interpreta sua irmã, Leila, se sobressaísse.
Com tantos personagens centrais, vários núcleos da trama ganham destaque. Flávia Alessandra, por exemplo, soube exagerar na dose e compor a perua Vanessa de maneira cômica. O ator Rodrigo Lombardi praticamente se juntou ao grupo de protagonistas ao fazer com que Tadeu se transformasse em mais do que uma cópia mal-sucedida do irmão Lance, de Pasquim. Sumida das novelas, Carla Marins aproveitou bem todas as facetas de sua Dorinha. No início, a personagem carregava o ar pesado de uma mulher que não se realizou no amor. Com o passar do tempo, foi ganhando cor no figurino e mais agilidade no texto. E agora, convence explorando o conflito da mulher que, por escolha própria, troca a felicidade conjugal pela estabilidade financeira.
Mas, como nem tudo é perfeito, Carlos Lombardi ainda utiliza estratégias da teledramaturgia que já estão ultrapassadas há anos. Como nas maldades de Elisabeth, que chega a promover a troca de crianças num shopping para deixar a rival Guinevere, de Juliana Paes, em maus lençóis. Pouco provável que uma família não percebesse que levou para casa o ?filho? errado, ainda mais sendo as duas crianças de sexos diferentes. Além disso, a ex-noviça consegue, mesmo com a tecnologia dos dias de hoje, falsificar com facilidade testes de qualidade de água para tentar comprar o sítio de Arthur, de Murilo Benício, mais barato. Outra idéia que não funciona bem é o excesso de flashbacks. Não há um capítulo que não conte com o recurso, trazendo uma sensação constante de ?déjà vu? à história.