Depois de mais de 20 anos à frente do Grupo Revelação, com o qual gravou 11 discos e quatro DVDs, além de emplacar sucessos nacionais na voz de grandes nomes do samba, o cantor, compositor e cavaquinista Xande de Pilares lança Perseverança, seu primeiro álbum solo. A saída do grupo vinha sendo amadurecida desde 2008 e foi anunciada no primeiro semestre deste ano, de maneira “pacífica, sem porradaria”, segundo o músico.
Aos 44 anos, Xande fala de sua saída do Revelação, dizendo que “não queria virar um robô”. “Existia um momento de estresse. Não podia deixar o excesso estragar um relacionamento de infância, e queria ser um homem normal, que acorda, come, canta e dorme. Eram muitos compromissos, mas agradeço muito por isso”, diz Xande.
No novo disco, produzido por Leandro Sapucahy, o instrumental contou com cuíca em algumas faixas, mas deixou o reco-reco (marca da sonoridade do Revelação) de fora. Em termos sonoros, a diferença entre o trabalho solo e os feitos com o Revelação é sutil, mas a digital de Xande segue presente: divisão malandreada dos fraseados, a veia de partideiro em sambas “pra frente” e o romantismo em composições mais dolentes. Outro ponto importante é que Xande preferiu não tocar cavaquinho no álbum, função cumprida por Mauro Diniz, um dos maiores cavaquinistas do País.
Essa identidade musical trazida por Xande desde os tempos de Revelação tem como principal referência a turma de compositores do Cacique de Ramos. E não é só isso, já que, em termos de carreira, o sambista também parece seguir os passos de mestres do Cacique, como Arlindo Cruz, Sombrinha, Jorge Aragão, Almir Guineto e Mário Sérgio, que despontaram com o grupo Fundo de Quintal para depois trilharem seus caminhos em carreiras solo.
Alinhavado pelo cantor e por Leandro Sapucahy, Perseverança abarca diversos estilos de samba. “Sempre ouvi muito Roberto Carlos, Michael Jackson, James Brown, Miltinho, Moreira da Silva, Kiss, Sepultura, Benito de Paula, muita coisa”, diz Xande, para justificar o caldeirão de influências de sua formação musical.
No álbum, há espaço para os mais dolentes e românticos, como A Senha (de Xande, André Renato e Gilson Bernini) e Se Eu Fosse Você (Arlindo Cruz, Acyr Marques e Aluisio Machado); para um típico partido-alto de “pergunta e resposta”, Pagode Formado, em estilo aprendido por Xande com o mestre Aniceto do Império; para sambas bem-humorados, na linha jocosa eternizada pelo Trio Calafrio (Luiz Grande, Barbeirinho e Marquinhos Diniz), como O Famoso Quem, aquele personagem desconhecido, mas que finge ser íntimo de todo mundo na festa.
O repertório traz ainda Logo Você (André Renato, Xande e Gilson Bernini), com letra sobre um amigo traíra, um samba feito em resposta ao clássico A Amizade (Cleber Augusto, Djalma Falcão e Bicudo), gravado em 1991 pelo Fundo de Quintal.
Destaque também para Orgulho Negro, em que, no final, Xande enumera uma série de nomes ícones da negritude, como Mandela, Obama, Zumbi, Clementina de Jesus, Pelé e Dona Ivone Lara.
Além do disco, Xande segue no elenco do programa Esquenta!, na Globo, e terá pelo segundo ano seguido um samba-enredo de sua autoria defendido em 2015 na Marquês de Sapucaí pelo Salgueiro. No próximo mês, ele também estreia no cinema, na comédia Made in China, ao lado de Regina Casé, dirigido por Estevão Ciavatta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.