Quando escreveu “O Rei da Vela”, Oswald de Andrade subverteu um dos personagens-símbolo da Idade Média: Abelardo, o trágico amante de Heloísa. Em seu novo espetáculo, os Parlapatões recuperam esse procedimento paródico do autor modernista e vão beber justamente na polêmica peça para nomear o protagonista de “A Meia Hora de Abelardo”. A montagem, que estreia hoje na sede do grupo, em São Paulo, foi escrita por Hugo Possolo e marca mais uma aproximação da trupe de palhaços de um teatro de feições mais dramáticas.

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O caminho trilhado por “A Meia Hora de Abelardo” não é tão distante da comédia como aquele insinuado em “A Vaca de Nariz Sutil”, espetáculo de 2008 que retomava o sombrio texto de Campos de Carvalho. Mas sinaliza uma intenção de discutir temas de relevância, como a relação entre o teatro e o poder. “Tem um tom mais reflexivo, mas não foge muito das nossas características, nosso estilo. Sempre há um componente de humor”, diz Henrique Stroeter, a cargo da direção.

Pontuada pela ironia, a história recupera os últimos minutos na vida de Gabriel Cruz. Ator decadente, Gabriel tem sua identidade praticamente anulada e passa a ser conhecido apenas pelo nome do personagem que interpretou em uma telenovela: Abelardo, um vilão que seduzia suas vítimas para depois matá-las. Passados muitos anos, o protagonista vê a chance de sair do ostracismo quando a repórter de um grande jornal o procura em busca de uma entrevista. Mas o encontro será marcado por percalços e por uma incômoda aproximação entre ficção e realidade.

Na hora de criar a trama de “A Meia Hora de Abelardo”, Hugo Possolo tinha em mente a figura de Renato Borghi, intérprete da histórica versão de “O Rei da Vela” pelo Teatro Oficina, em 1967.

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Para além da homenagem, porém, surge uma reflexão sobre a explosão da fama gratuita e a febre das celebridades. “Existe sempre um embate entre o jornalista e o artista, mas isso não é tratado na dramaturgia”, lembra o diretor. Subjacente, aparece também uma discussão sobre qual seria a importância do talento hoje. “Nesse contexto, o que é fama, reconhecimento? Qual o papel do ator? Ele deve ser ouvido por muitos – trabalhando em uma novela, por exemplo – ou fazer algo mais autoral?”, pergunta Stroeter, sem oferecer respostas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Meia Hora de Abelardo – Espaço Parlapatões (Praça Roosevelt, 158). Tel. (011) 3258-4449. Terça, às 21h. R$ 30. Até 7/12.

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