Em 2012, depois de concluir seu longa Cidade Cinza, Marcelo Mesquita tirou uma semana de férias. Zapeando na TV, chamou sua atenção a transmissão da Paralimpíada de Londres. Estádios lotados, e aquele apresentador que dizia que atletas deficientes – sem pernas – estavam só um segundo atrás do campeão jamaicano. E o apresentador disse mais – que dali a pouco o telespectador veria Oscar Pistorius ganhar o ouro da categoria. Mesquita acomodou-se para ver a grande conquista. O mundo e ele viram outra coisa. Um desconhecido corredor brasileiro, Alan Fonteles, arrebatou o ouro.
Como? Dizer que naquele começou a nascer o documentário Paratodos talvez seja meia-verdade. Porque Mesquita não fala muito sobre isso, mas seu pai havia tido uma doença grave que deixou sequelas e lhe incomodava o olhar dos outros. Teve gente que até se afastou. Isso, sim, somado ao que viu na TV, mexeu com sua sensibilidade. Passaram-se quatro anos e Paratodos, enfim, está no mundo. Não é só um belo documentário e um filme de valor artístico inegável. É todo um projeto de inclusão que veio sendo trabalhado simultaneamente.
Paratodos estreou na quinta, 23, distribuído pela O2Play em todo o Brasil. Foi precedido de pré-estreias mistas (pagas e para convidados) na terça, 21. Em vários lugares, lotou. Ao mesmo tempo, iniciou-se um projeto gestado pela produtora Sala12 Filmes e a Taturana Mobilização Social em parceria com secretarias municipais e de Estado da Educação em São Paulo, no Rio, na Bahia e em Pernambuco. O filme já está sendo visto por estudantes da rede pública, num projeto que visa a atender 2 mil escolas. Cada uma recebe o DVD, mais apostila com orientação para professores. A estimativa é de que seja visto por 250 mil estudantes.
O que Marcelo Mesquita descobriu, naquele dia, na TV, é que o esporte está mais ágil que a sociedade em termos de inclusão. A rampa é necessária, mas a acessibilidade não termina aí. É preciso incluir na educação, saúde. Paratodos é um lema, uma meta. Um filme e muito mais. Acompanhando atletas de quatro modalidades em que o Brasil tem subido ao pódio dos esportes paralímpicos – corrida, canoagem, futebol e natação -, o filme conta histórias não de super-homens e mulheres, muito menos de coitadinhos. São guerreiros. Têm humor. Têm de enfrentar tudo, até a corrupção (que existe) no esporte. Não é um olhar jornalístico. O documentário é de observação, prioriza a estética. Toda atenção ao detalhe. No futebol, o som da bola é trabalhado para adquirir uma dimensão fantástica. O diretor é apaixonado por Gabriel García Márquez. Em Paratodos, há um tanto de realismo mágico.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
