Marcelo Munhoz em cena de “O Fim
de Ciúme”: arquiteto atormentado.

Dois filmes paranaenses fizeram bonito no 30.º Festival de Cinema de Gramado, encerrado sábado: o média-metragem O Fim do Ciúme, de Luciano Coelho, ganhador do prêmio de melhor roteiro e Prêmio Especial do Júri pela fotografia na categoria curtas e médias-metragens em 16mm, e O Encontro, de Marcos Jorge, que trouxe três Kikitos da competição de curtas 35mm – melhor atriz (Malu Bierrenbach), melhor ator (Lui Strassburg) e melhor fotografia (Kátia Coelho). Este último já tinha sido o grande vencedor do último Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba.

São duas produções bem distintas: O Encontro tem como trunfo a montagem e a criatividade numa situação banal, um encontro amoroso. Para isso, utiliza truques e recursos básicos de edição, como os cortes que fazem os dois personagens trocarem de figurino o tempo todo. Outra idéia interessante foi a invenção de um idioma especialmente para a produção – o “cinemês”, elaborado a partir dos nomes atores, atrizes, diretores e filmes célebres.

Já O Fim do Ciúme conquistou o júri pela feliz adaptação de Luciano Coelho e Edson Bueno do conto homônimo de Marcell Proust, publicado no seu livro de estréia, Os Prazeres e Os Dias, lançado em 1896. Eles optaram por contemporaneizar a história, trazendo-a para Curitiba. No filme, o relacionamento bem-sucedido do arquiteto Marcelo (Marcelo Munhoz) com a pintora Fernanda (Fernanda Farah) é ameaçado quando ele é acometido por uma crise de ciúmes. No auge da paranóia, o arquiteto é atropelado, e, enquanto se recupera, faz uma reflexão sobre o significado do seu ciúme.

Produzido há quase três anos, O Fim do Ciúme estava engavetado por falta de recursos. “Entramos na fila da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, e só conseguimos finalizá-lo este ano”, conta o cineasta. Único média-metragem do Festival, o filme de 40 minutos custou R$ 110 mil. Mas o esforço valeu a pena. “A resposta do público também foi muito boa”, comemora Luciano Coelho. O sucesso da produção pegou o próprio cineasta de surpresa: “Eu já estava feliz com a seleção para Gramado”, relembra. O filme será lançado em Curitiba no Shopping Crystal, no próximo dia 28, com o apoio do Grupo Severiano Ribeiro.

Vencedores

Mas o grande ganhador do Festival de Gramado foi Durval Discos, de Anna Muylaert, que faturou sete Kikitos (melhor filme, direção, direção de arte, fotografia e roteiro, além dos prêmios de melhor filme para o júri popular e para a crítica). A diretora deixou a serra gaúcha com um carro Fiat e R$ 50 mil – ofertados pela Cinemark.

A nova categoria de melhor documentário premiou o festejado Edifício Master, de Eduardo Coutinho – considerado o melhor filme de todo o festival por parte da crítica. A produção retrata o Brasil a partir de um edifício em Copacabana, e mergulha na solidão das pessoas deste universo. Entre os longas latinos de ficção, o vencedor foi La Perdición de los Hombres, do mexicano Ripstein, enquanto que a imprensa cinematográfica preferiu o argentino El Hijo de la Novia, de Juan José Campanella.

Na categoria curtas em 35 mm, o vencedor foi o elogiado Como Se Morre no Cinema, de Luelane Loiola Corrêa, que ganhou os Kikitos do júri oficial, júri popular e da crítica. Gramado também fez justiça a um filme que tinha passado em branco por outras competições – Dona Cristina Perdeu a Memória, de Ana Luiza Azevedo. O filme conta a história do papagaio do clássico Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos. O melhor filme entre os curtas em 16mm foi Justiça Infinita, de Cacá Nazário, com destaque também para Um Sol Alaranjado, de Eduardo Valente (melhor diretor e atriz – Patrícia Selonk).

Próxima parada: Brasília

O 35.º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro acontece de 19 a 26 de novembro, e as inscrições para os concorrentes ao Troféu Candango e outros prêmios em dinheiro estão abertas. Até o dia 30 de setembro podem se inscrever os filmes em 35 e 16 milímetros que irão competir por R$ 400 mil em prêmios.

Além das mostras competitivas, o festival oferece encontros, oficinas, seminário, homenagens, mostra de filmes brasilienses, exposições, lançamentos e o festivalzinho, programado para alunos das escolas públicas do Distrito Federal. Entre as novidades da edição 2002, estão a alteração no regulamento, que retira a obrigatoriedade do curta-metragem ter recebido o prêmio principal em outros festivais. O prêmio de melhor filme oficial continua sendo R$ 50 mil, mas para as categorias de direção, roteiro, fotografia, direção de arte, trilha sonora montagem estão mais altos – direção, R$ 10 mil e R$ 5 mil para as demais.

As inscrições estão abertas na sede da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, e a ficha de inscrição pode ser encontrada no Centro Técnico de Audiovisual da Funarte, no Rio, no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, nas secretarias estaduais de cultura e também no site da Secretaria (sc.df.gov.br).

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